SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO

No futebol , reunir várias estrelas em um time nem sempre é garantia de vitória. Por vezes, resulta em decepção e vergonha. A memória não precisa ir muito longe: há a Holanda dos craques Gullit, Van Basten e Rijkaard, que fez feio na Copa de 90, ou o "pior ataque do mundo", de Romário, Sávio e Edmundo, no Flamengo de 95.
O vocalista do grupo norte-americano Violent Femmes, Gordon Gano, provavelmente não tem o "soccer" entre suas referências, mas procurou não cometer os mesmos erros ao gravar seu début solo, "Hitting the Ground", que sai agora no Brasil.
Originalmente composto por Gano como trilha sonora de um filme homônimo de 1996, as 11 canções do CD são abrilhantadas com a presença de nomes de primeira grandeza do rock como Lou Reed, PJ Harvey, John Cale e Frank Black. E, sim, a equipe escalada aqui faz bela apresentação.
Até poder ter ilustres em um disco seu, o frontman do Violent Femmes teve de dar sua contribuição ao pós-punk, adicionando à sonoridade do período elementos acústicos e letras algo entre o sarcasmo e a angústia. Até hoje, o violão irônico de "Blister in the Sun" interrompe conversas em ambientes onde é tocado. Outro clássico, "Gone Daddy Gone", é provavelmente a única música que consegue fazer o punk soar mais punk tendo como instrumento principal um... xilofone.
Mas, em "Hitting the Ground" (Batendo no Chão), Gano, diante de alguns convidados legendários, segura suas diabruras e permite que as características dos participantes suplantem as suas -o que se mostra uma decisão acertada, uma humildade adequada. Afinal, em "Don't Pretend" e "Catch'em in the Act", estão nada menos do que dois ex-Velvet Underground, John Cale e Lou Reed, respectivamente. A primeira tem o piano marcado e a voz trovejante de Cale, que estabelece: "A vida é o teste que você deve enfrentar/ a vida é o sonho de que você deve acordar". Não há como Gano discutir ou discordar. Mas, logo na faixa seguinte, guia Reed com mão firme de volta à fase "New York", em que tirava suas melhores levadas de guitarra.
Mesmo com a ex-4 Non Blondes Linda Perry (que nunca conseguiu usar devidamente sua bela voz) e Frank Black (com um desempenho morno, sua tônica após o fim dos Pixies) decepcionando, o disco se mostra distinto de outros recheados de "convidados especiais" (no geral, arranjos para promover artistas). O time de "Hitting the Ground" pode acabar não sendo o campeão, mas demonstra que joga por música.
Hitting the Ground
    Artista: Gordon Gano Lançamento: Sum Records Quanto: R$ 27, em média


Texto Anterior: Análise: Em tempo de guerra, TV reproduz timidez
Próximo Texto: Nelson Ascher: Depois de babel
Índice