São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 2000


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SANT'ANA & SANTTANA

Lucas faz ponte Rio-Bahia em "Eletro Ben Dodô"

Divulgação
O cantor e compositor baiano Lucas Santana, que lança 1º CD


da Reportagem Local

Um dos cinco filhos de Roberto Sant'Ana, Lucas Santtana, 29, que lança agora seu CD de estréia, "Eletro Ben Dodô", tem de começar pelo básico, explicando o próprio nome:
"Meu pai é Sant'Ana, mas registrou os filhos como Santana. Pus Santtana por causa de macumba, porque sou do candomblé. Saiu para mudar, mudei".
Embora comece, pois, reafirmando saberes atávicos, se define como homem com uma missão. Fazendo, em parte, a defesa da cultura axé de sua Bahia natal, mas também tematizando o samba funkeado (ou o funk "sambeado") carioca, de Jorge Ben a Fausto Fawcett e Fernanda Abreu, se expõe:
"Não acho que as pessoas são imbecis quando dão valor ao Tchan. A música planetária é 80% lixo, acho isso normal. De cada dez, nove são uma merda, mas alimentam a indústria. Aí há espaço para pessoas como eu, que nasceram para isso, para trazer a novidade e a informação".
Qual é sua música? Lucas conta que veio de formação erudita, estudando flauta na Universidade Federal da Bahia. "Tive contato com os compositores contemporâneos, Stockhausen, Cage. Cheguei a ser aceito num conservatório na Alemanha, em 90, mas nessa hora fiquei com medo. Foi quando optei pela MPB."
Aí se deram a mudança de Salvador para o Rio (há sete anos) e a transição à música pop: "Fui flautista de Gerônimo, até que Caetano Veloso e Gilberto Gil me chamaram para gravar "Baião Atemporal" em "Tropicália 2" (93). Fiz o show, depois entrei na banda do "Unplugged MTV" (94) de Gil".
O contato musical, por intermédio do pai e de seus amigos, foi fundamental no processo?
"Ele é um cara da indústria, desde criança tive acesso a muita música popular. Encontrava Luiz Gonzaga no avião, Dorival Caymmi é padrinho de meu irmão. Meu pai é muito amado e muito odiado na indústria, mas até agora isso não me abriu nem me fechou portas. Sempre fiz questão que não influenciasse."
E a relação com o ex-maldito Tom Zé? "Temos muita ligação musical, muito mais de minha parte. Num dado momento, descobri seus discos, nem sabia que era meu tio (tecnicamente é primo de segundo grau, primo carnal de meu pai). Brinquei com meu pai: "Seu bosta, não me falou que é meu tio". Fui a São Paulo, o visitei, o conheci."
A súmula das influências recebidas ele guarda, cercadas, dentro de "Eletro Ben Dodô", o título e o álbum. "O disco dialoga com muitas coisas: dub, eletrônica, percussão, african pop, Timbalada. Há a vontade de trazer novidade sonora. Não soa parecido com nada hoje em dia, tenho certeza disso. A intenção é fazer história, correr riscos", diz do disco.
Do nome: "Eletro é esse mundo elétrico, eletrônico. Dodô é em homenagem a esse gênio do trio elétrico, que pensava na amplificação do som muito cedo, inventou a guitarra elétrica junto com Leo Fender sem ter comunicação com ele. Ben é de o eletro ser bem Dodô, mas também é o Jorge Ben, o lance de guitarras".
Está explicado.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)

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