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TELEVISÃO
O "incrível Huck" está de volta
TELMO MARTINO
Colunista da Folha
Espera-se que a TV Globo já tenha desistido de recuperar o meio
século de televisão que tanto quer
festejar.
Prometer a recuperação de tantos anos de humor e mostrar logo
aquela burra enchantée de vestido novo e marido velho para depois ir parar numa Times Square
feita de encomenda, mas guardando a caipirice de um tempo
em que a "Big Apple" só era acessível nos cinemas de bairro. É
muito pouco Walter Dávila para
tanta contrafação.
Muito melhor é ficar com as novidades e ver o que a alegria ambiciosa do Luciano Huck colocou
dentro do seu "Caldeirão". Tudo
o que ele jogou lá dentro não tem
nada a ver com o que as bruxas
do Macbeth temperavam o seu
caldo fumegante.
Depois de começar o programa
beijando -"todo papal"- o
chão do novo estúdio, ele só quis
saber de alegria. Muito generoso,
para ele e todos os outros. Num
certo desacerto, Zezé de Camargo
e Luciano entraram na fervura.
Como se tentasse corrigir o erro, o
Zezé usou uma camisa sem mangas, e com o Gabriel, o Pensador,
no disfarce, cantaram aquela
"Menina Veneno" que nunca pisou um palmo sequer de sertão
brasileiro.
Nunca se viu um auditório povoado de tanta gente nova e feliz.
De repente vários se jogam numa
piscina de bolas flutuantes. De repente o Huck aparece lá pelas dunas do Rio Grande do Norte com
um menino campeão de sandboard. Garoto rico de bons endereços na lembrança, Huck tem a
idéia de levar o garoto nordestino
para Aspen, lá no Colorado, para
tentar que, com um snowboard, o
garoto faça na neve o que fazia
na areia. Sucesso total. Prêmio escolhido pelo garoto? Um curso de
inglês.
De volta da neve, com seu espaço lotado de gente alegre, esse
Huck mostra mais esperteza. Vê
as cuecas assinadas por jogadores
de futebol que encomendou e joga
uma dúvida sempre rica: "Você
trocaria seis meses de sexo por
uma Ferrari?". Cobiça e jejum se
debatem num ridículo alegre.
Não se sabe quem abriu uma
pausa mínima, mas ela foi logo
aproveitada pela cantoria do Zezé e do Luciano. Que mania de
cantar esses dois têm. Só se sabe
que tem um tal de pão de mel para adoçar ainda mais a melosidade. Esses sertanejos são uns irresponsáveis com a diabetes da garotada. Enquanto isso o Huck
descobre que se joga baseball no
Brasil e chama o Galvão Bueno
para narrar uma partida. Galvão
vai e, nem por um segundo, perde
a noção do ridículo que tanto lhe
persegue. Não erra o "catcher"
nem o "pitcher".
Só para acabar, um rápido concurso de perguntas e respostas para alguém levar um carro zerinho. Fiquem os outros sabendo
que o carro do Huck é de qualidade. Isso é que é riqueza honesta.
Tem o melhor. Dá o melhor. O
"Caldeirão" está cheio de coisas
boas. Mas o Huck é a melhor.
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