São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 2000


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TELEVISÃO

O "incrível Huck" está de volta

TELMO MARTINO
Colunista da Folha

Espera-se que a TV Globo já tenha desistido de recuperar o meio século de televisão que tanto quer festejar.
Prometer a recuperação de tantos anos de humor e mostrar logo aquela burra enchantée de vestido novo e marido velho para depois ir parar numa Times Square feita de encomenda, mas guardando a caipirice de um tempo em que a "Big Apple" só era acessível nos cinemas de bairro. É muito pouco Walter Dávila para tanta contrafação.
Muito melhor é ficar com as novidades e ver o que a alegria ambiciosa do Luciano Huck colocou dentro do seu "Caldeirão". Tudo o que ele jogou lá dentro não tem nada a ver com o que as bruxas do Macbeth temperavam o seu caldo fumegante.
Depois de começar o programa beijando -"todo papal"- o chão do novo estúdio, ele só quis saber de alegria. Muito generoso, para ele e todos os outros. Num certo desacerto, Zezé de Camargo e Luciano entraram na fervura. Como se tentasse corrigir o erro, o Zezé usou uma camisa sem mangas, e com o Gabriel, o Pensador, no disfarce, cantaram aquela "Menina Veneno" que nunca pisou um palmo sequer de sertão brasileiro.
Nunca se viu um auditório povoado de tanta gente nova e feliz. De repente vários se jogam numa piscina de bolas flutuantes. De repente o Huck aparece lá pelas dunas do Rio Grande do Norte com um menino campeão de sandboard. Garoto rico de bons endereços na lembrança, Huck tem a idéia de levar o garoto nordestino para Aspen, lá no Colorado, para tentar que, com um snowboard, o garoto faça na neve o que fazia na areia. Sucesso total. Prêmio escolhido pelo garoto? Um curso de inglês.
De volta da neve, com seu espaço lotado de gente alegre, esse Huck mostra mais esperteza. Vê as cuecas assinadas por jogadores de futebol que encomendou e joga uma dúvida sempre rica: "Você trocaria seis meses de sexo por uma Ferrari?". Cobiça e jejum se debatem num ridículo alegre.
Não se sabe quem abriu uma pausa mínima, mas ela foi logo aproveitada pela cantoria do Zezé e do Luciano. Que mania de cantar esses dois têm. Só se sabe que tem um tal de pão de mel para adoçar ainda mais a melosidade. Esses sertanejos são uns irresponsáveis com a diabetes da garotada. Enquanto isso o Huck descobre que se joga baseball no Brasil e chama o Galvão Bueno para narrar uma partida. Galvão vai e, nem por um segundo, perde a noção do ridículo que tanto lhe persegue. Não erra o "catcher" nem o "pitcher".
Só para acabar, um rápido concurso de perguntas e respostas para alguém levar um carro zerinho. Fiquem os outros sabendo que o carro do Huck é de qualidade. Isso é que é riqueza honesta. Tem o melhor. Dá o melhor. O "Caldeirão" está cheio de coisas boas. Mas o Huck é a melhor.


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