São Paulo, sexta-feira, 17 de abril de 2009

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Após o filme, acusado voltou a ser preso

THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA

Um alento para quem, ao final do filme, se indignar com a absolvição de Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, acusado de ser um dos mandantes do assassinato de Dorothy: na semana passada, seu segundo julgamento foi anulado, e ele está preso.
Mesmo que temporariamente, até um novo júri, trata-se de algo incomum no Pará. Ele é o único acusado de mandar matar alguém em razão de conflito fundiário que está atrás das grades, levando em conta mais de 800 crimes similares no Estado. Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, que também responde pelo mando, aguarda o julgamento em liberdade.
Outros fazendeiros da região seguem impunes. Jamais implicados no crime, muitos dos "poderosos" que os entrevistados acreditam estar por trás do assassinato não são conhecidos pelo público. Isso porque o filme não se esforça em explorar o propalado consórcio para eliminar a missionária.
Não procura nem sequer fazendeiros citados, mesmo que para rebater acusações. Délio Fernandes, por exemplo: Bida esteve em sua fazenda em Anapu após o crime para fazer um telefonema. No ano passado, Fernandes foi eleito vice-prefeito da cidade onde a freira foi morta. Nada disso é mencionado.
O madeireiro Luiz Ungaratti, outro citado em depoimento de Bida, também é desconhecido dos espectadores. Foi chamado para depor até na CPI da Terra, mas não aparece no filme.
Também não há nenhum delegado da Polícia Civil ou da Polícia Federal para explicar o porquê de tanta gente jurar que há mais envolvidos e as investigações não terem avançado nesse sentido.
O principal mérito do documentário é deixar claro que as reviravoltas do caso são, em grande parte, fruto de estratégia dos advogados de defesa. Os pistoleiros e o intermediário, intimidados, mudam seus depoimentos de um dia para o outro para tentar safar os outros dois acusados.
O filme mostra as controversas táticas dos advogados de desqualificar o júri. Não à toa, um vídeo usado pela defesa de Bida -no qual o intermediário, já preso, o isenta de culpa- acabou sendo o grande responsável pela anulação do julgamento na semana passada. Feito sem autorização da Justiça, foi considerado prova ilegal.


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