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CINEMA/ESTREIAS
Crítica/"Divã"
Interpretação contida de Lilia Cabral segura comédia
"Divã", inspirado em romance de Martha Medeiros, foi peça de teatro de sucesso
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Filmes inspirados em peças costumam ampliar
o público que as conheceu no teatro, como recentemente demonstraram "Dúvida", de John Patrick Shanley,
que adaptou texto de sua autoria, e "Frost/Nixon", de Ron
Howard, que o roteirista Peter
Morgan extraiu de peça também escrita por ele mesmo.
"Divã" encara a partir de hoje
o desafio de mostrar que, no
atual cenário do mercado cinematográfico brasileiro, a equação da multiplicação dos espectadores também vale -e que o
êxito de um espetáculo no teatro pode funcionar como alavanca para uma carreira bem-sucedida nos multiplexes dos
shopping centers.
"Livremente inspirada" no
romance homônimo de Martha
Medeiros, a peça de Marcelo
Saback ficou em cartaz durante
três anos, com Lilia Cabral como protagonista, e foi vista por
175 mil espectadores -público
superior ao que a maioria dos
filmes brasileiros tem obtido
nos últimos anos.
Busca do público
Saback (como roteirista) e
Lilia (em sua estreia no cinema) se juntaram ao experiente
diretor José Alvarenga Jr. ("A
Princesa Xuxa e os Trapalhões", "Os Normais") na tentativa de reeditar a boa comunicação do espetáculo com o público, sobretudo o feminino
e adulto.
No início do filme, Mercedes
(Lilia) vai ao psicanalista pela
primeira vez. Casada com o namorado da juventude, na faixa
dos 40 anos, dois filhos já crescidos, ela trabalha como professora particular de matemática e, como hobby, pinta quadros. Ao analista, diz ser feliz e
não saber por que foi parar no
seu divã. Será mesmo?
Esqueça "A Outra" (1988), de
Woody Allen, e a minissérie "In
Treatment" (2008): o que vem
a seguir está pouco preocupado
com o que se desenvolve dentro
do consultório.
O interlocutor silencioso de
Mercedes existe para que a ouçamos e a acompanhemos nos
intervalos entre as sessões, dividindo com ela suas dúvidas e
inseguranças.
"Divã" só abandona sua protagonista em uma sequência,
quando ficamos sabendo o que
se passa com o marido (José
Mayer) durante, ironicamente,
um espetáculo teatral que ele
odeia, mas finge gostar. Já que a
psicanálise foi invocada, talvez
seja o caso de considerar esse
momento como um "ato falho"
na história.
Como era dispensável "entrar" na cabeça do marido para
que se percebesse o que ocorria
com ele, fazê-lo é revelador de
como o filme considera que, às
vezes, é preciso "explicar" certas coisas ao espectador.
Outros diálogos e situações
se prestam ao mesmo papel, na
contracorrente do que "Divã"
tem de melhor a oferecer, a
atuação contida de Lilia, muito
feliz em alguns momentos ao lidar com a dor represada e os silêncios expressivos.
DIVÃ
Produção: Brasil, 2009
Direção: José Alvarenga Jr.
Com: Lilia Cabral, José Mayer, Cauã Reymond, Reynaldo Gianecchini
Onde: em cartaz nos cines Bristol 6, Boulevard Tatuapé 5, Cine Bombril 1, Eldorado 6 e circuito
Classificação: não indicado para menores de 14 anos
Avaliação: regular
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