São Paulo, sexta-feira, 17 de abril de 2009

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CINEMA/ESTREIAS

Crítica/"Divã"

Interpretação contida de Lilia Cabral segura comédia

"Divã", inspirado em romance de Martha Medeiros, foi peça de teatro de sucesso

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Filmes inspirados em peças costumam ampliar o público que as conheceu no teatro, como recentemente demonstraram "Dúvida", de John Patrick Shanley, que adaptou texto de sua autoria, e "Frost/Nixon", de Ron Howard, que o roteirista Peter Morgan extraiu de peça também escrita por ele mesmo.
"Divã" encara a partir de hoje o desafio de mostrar que, no atual cenário do mercado cinematográfico brasileiro, a equação da multiplicação dos espectadores também vale -e que o êxito de um espetáculo no teatro pode funcionar como alavanca para uma carreira bem-sucedida nos multiplexes dos shopping centers.
"Livremente inspirada" no romance homônimo de Martha Medeiros, a peça de Marcelo Saback ficou em cartaz durante três anos, com Lilia Cabral como protagonista, e foi vista por 175 mil espectadores -público superior ao que a maioria dos filmes brasileiros tem obtido nos últimos anos.

Busca do público
Saback (como roteirista) e Lilia (em sua estreia no cinema) se juntaram ao experiente diretor José Alvarenga Jr. ("A Princesa Xuxa e os Trapalhões", "Os Normais") na tentativa de reeditar a boa comunicação do espetáculo com o público, sobretudo o feminino e adulto.
No início do filme, Mercedes (Lilia) vai ao psicanalista pela primeira vez. Casada com o namorado da juventude, na faixa dos 40 anos, dois filhos já crescidos, ela trabalha como professora particular de matemática e, como hobby, pinta quadros. Ao analista, diz ser feliz e não saber por que foi parar no seu divã. Será mesmo?
Esqueça "A Outra" (1988), de Woody Allen, e a minissérie "In Treatment" (2008): o que vem a seguir está pouco preocupado com o que se desenvolve dentro do consultório.
O interlocutor silencioso de Mercedes existe para que a ouçamos e a acompanhemos nos intervalos entre as sessões, dividindo com ela suas dúvidas e inseguranças.
"Divã" só abandona sua protagonista em uma sequência, quando ficamos sabendo o que se passa com o marido (José Mayer) durante, ironicamente, um espetáculo teatral que ele odeia, mas finge gostar. Já que a psicanálise foi invocada, talvez seja o caso de considerar esse momento como um "ato falho" na história.
Como era dispensável "entrar" na cabeça do marido para que se percebesse o que ocorria com ele, fazê-lo é revelador de como o filme considera que, às vezes, é preciso "explicar" certas coisas ao espectador.
Outros diálogos e situações se prestam ao mesmo papel, na contracorrente do que "Divã" tem de melhor a oferecer, a atuação contida de Lilia, muito feliz em alguns momentos ao lidar com a dor represada e os silêncios expressivos.


DIVÃ

Produção: Brasil, 2009
Direção: José Alvarenga Jr.
Com: Lilia Cabral, José Mayer, Cauã Reymond, Reynaldo Gianecchini
Onde: em cartaz nos cines Bristol 6, Boulevard Tatuapé 5, Cine Bombril 1, Eldorado 6 e circuito
Classificação: não indicado para menores de 14 anos
Avaliação: regular



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