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Lobão
da Reportagem Local
Ele se considera um isolado, um
exilado. "Estou num momento de
absoluto exílio. Tenho sido muito,
mas muito descredenciado, às vezes como um bufão, outras como
um aposentado. Mas, em vez de
me recalcar, funciona como um
haltere para minha alma", afirma
o cantor e compositor carioca Lobão, 40, no momento em que lança seu décimo álbum, "Noite".
Depois do "emepebístico" -e
amplamente rejeitado- "Nostalgia da Modernidade" (95), Lobão
consuma nova guinada, agora rumo aos samples e a temas da moda
como tecno e drum'n'bass.
"Duvido que haja algo tão ousado quanto este disco na praça.
Meus níveis de vendagem são tão
dramaticamente baixos, que posso fazer o que quiser. Pareço um
artista novo, estreante", diz o artista, contratado pela Universal
após temporada de exílio da indústria fonográfica.
Antes que se denuncie oportunismo tecno, ele se apressa em redefinir prioridades. "Este disco é
mais careta que "Nostalgia da Modernidade', mas é proposital e ousadamente mais careta. Peguei temas que são tendência -tecno
nem é mais underground, Prodigy
já é jingle de Melissinha- e tentei
ser o mais ousado possível."
Lobão não pretende se infiltrar
nas controvérsias que cercam o
universo tecno (sempre pronto a
repelir adesões repentinas), nem
se fazer "clubber de última hora".
"O tecno é cenográfico no meu
trabalho. "Nostalgia' foi desprezado, pegaram o filão e tornaram
ufanista. Meus amigos morreram,
meus inimigos estão no poder, estou sozinho. Só me resta me diferenciar. Mas, em respeito às tribos
clubbers, não quero ser oportunista, seria falsidade ideológica."
Sua conclusão: "Uso uma vestimenta inteligentemente provocativa para vasculhar a MPB. Estou
provocando aquilo que amo. Este
CD tem farpas, é áspero, desamparado. Mas é provocação amorosa. Homenageio o tecno, que é evidentemente revolucionário, mas
faço música popular brasileira".
Volta, assim, à questão do exílio
a que os de sua geração foram submetidos, em maior ou menor
grau. "Não sou pop/rock. Isso
aqui tem conotação superficial,
juvenil, júnior. Por favor, me respeitem, não sou bufão, subproduto. Não há essa diferenciação hierárquica. Se ganhar prêmio de
pop/rock, fico louco, lunático."
"Fiz samba em "Nostalgia', e era
estratégico, para evidenciar nossa
"bastardice'. Mostrei para Paulinho da Viola, ele disse: "Os sambas
são ótimos, mas os rocks são do
caralho!'. Aí a Rita Lee diz que o
Lobão ficou careta porque fez
samba. É um estereótipo preconceituoso", afirma.
Bom-mocismo
Clamando ainda por ruptura,
Lobão fala das novas gerações do
pop nacional. "Tem muita gente
boa, mas faltam gurus -talvez
por questão estratégica, pois temos potencial "gurulógico'. Tem
muito filhote de tropicália, e aí tradição se confunde com continuísmo, é muito neotropicalismo."
Sobre as vertentes mais populares: "É "bundamolice', bom-mocismo, são os filhos da Xuxa. Não
sou adepto do rebolado sôfrego
dos quadris picanha. É uma sede
de aceitação pelo estrangeiro, "veja
o Brasil' -aí ou é o "jeitinho brasileiro' ou o "povinho de merda'.
Não vamos ser piada, porra!".
Aproveita o fôlego e fala ("retardatário") da revolta que lhe causou a campanha por Olimpíadas
no Rio, tematizada na faixa "Samba da Caixa Preta":
"Aquele clipe de adesão é um
lapso de inteligência daqueles artistas. A cidade é podre, fede. Carioca sangue bom é uma merda,
essas supostas virtudes são precariedades. Jactar-se e se envaidecer
da farofa da mulata é síndrome de
capacho de rendez-vous de Terceiro Mundo. Vamos nos ligar um
pouquinho em arte, estamos espartanos demais, é só malhação.
Carioca é narciso, mas cai na água
e não se afoga, vira peixinho ornamental. Cumpre o mito, pô!"
Não poupa os medalhões, também. "Se vou à casa de Paulinho
da Viola, posso falar que adoro ele
e não sou eclipsado. Conversamos
de igual para igual, ele não se locupleta. Isso não acontece com outros colegas, se falo "te amo' vou
pro bolso deles. Viro "geração de
merda', "iê-iê-iê' -e não sou."
Não resta, de tudo isso, um discurso pessimista, segundo Lobão.
"Noite' é um disco de desamparo,
mas exprime a felicidade do desamparo. Nada pode deter uma
pessoa feliz."
(PAS)
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