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"IRIS"
Longa conta com atuação de Jim Broadbent, premiado no Oscar deste ano
Roteiro não acompanha qualidade de elenco do filme
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
A princípio , o paralelismo
que o filme estabelece entre a
jovem Iris Murdoch, interpretada
por Kate Winslet, e a velha, encarnada por Judi Dench, dá conta de
que a personagem nunca mudou
em essência.
Se considerarmos que a filósofa
e romancista irlandesa Murdoch
era uma fiel adepta do platonismo, e não uma especialista em auto-ajuda como o roteiro de "Iris",
em seu sintetismo, poderá dar a
entender, e que acreditava, portanto, na imortalidade da alma e
numa forma ideal de bem supremo capaz de guiar, pela razão,
nossas vidas, esse paralelismo não
nos parecerá de todo desmedido.
Mas, a partir do momento em
que a personagem torna-se vítima
do mal de Alzheimer, esse paralelismo, que passa então a estabelecer um hiato entre as duas Iris, parece encerrar uma constatação
schopenhauriana: "O que em nós
teme a morte, a vontade, não o deveria, pois é imortal, já o que em
nós não a teme, o sujeito do conhecimento, o intelecto, deveria
temê-la, pois é mortal".
As palavras e o sentido das coisas passam a fugir de Iris. Ela se
sente navegando na escuridão. A
história de sua degenerescência
intelectual, tanto mais cruel pelo
fato de a escritora experimentar,
na velhice, o auge da carreira, nos
é contada por seu marido, o professor John Bayley (Jim Broadbent, Oscar de ator coadjuvante),
autor dos dois livros autobiográficos que inspiraram o filme.
Para Iris, a "vontade" é o amor e
essa espécie de energia amorosa
que ela vê transitar, contagiosa,
entre as pessoas, os animais e as
coisas. Na juventude, ela procurou associar essa energia ao seu
aprendizado, unindo, à maneira
epicurista, a saúde do corpo ao
sossego do espírito. Foi amante de
Sartre, Elias Canetti e Raymond
Queneau e com eles nunca dissociou conhecimento de desejo, segundo declaração que (assim como o nome desses amantes) não
está no longa.
Se em "Iris" devemos nos contentar com o em-tudo-titubeante-Bradley é porque, antes da morte
e depois da perda de sua capacidade intelectual (esvaecimento de
seu "sujeito do conhecimento"),
Murdoch deve ainda afirmar a
sua "vontade", manifestando, para além da linguagem, o amor
ideal (platônico) que nutre pelo
marido, sua "alma gêmea".
Uma pena que, a despeito do
elenco, o filme, especialmente pelos limites que o roteiro revela
diante das possibilidades do argumento, não parece à altura da personagem. Como diz Bradley, Iris
era como uma música celestial, e
as pessoas hoje em dia só entendem a linguagem das imagens.
Iris
Direção: Richard Eyre
Produção: Inglaterra/EUA, 2001
Com: Kate Winslet, Judi Dench
Quando: a partir de hoje nos cines Belas
Artes, Paulista, Iguatemi e circuito
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