|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"ATÉ O FIM"
Tilda Swinton mergulha fundo em um amontoado de clichês
CÁSSIO STARLING CARLOS
EDITOR DO FOLHATEEN
O que pode danificar mais a
eficácia de um thriller do que
a previsibilidade? Esse é o "pequeno" problema que compromete o
longa-metragem "Até o Fim" de
saída. Passados cinco minutos
iniciais, quase nenhuma surpresa
se coloca ao espectador. Pecado
mortal no gênero.
O "plot" é um amontoado de
clichês: mãe superprotetora descobre que o filho adolescente sensível e delicado está tendo um caso com um homem mais velho,
bonitão e cafajeste.
Vai se esforçar para afastá-los.
Com a morte acidental do amante
do filho, esforça-se para esconder
o cadáver, mas acaba se envolvendo com chantagistas. Um deles se
condói dela e põe o plano "do
mal" a perder.
Dito isto, o que sobra de "Até o
Fim"? A beleza das locações, a interpretação contida de Tilda
Swinton, a fotografia fria em tons
azuis. Ora, será que isso basta para um filme se manter de pé?
A dupla de roteiristas e diretores
Scott McGehee e David Siegel retomou um romance policial dos
anos 40 que serviu de base para o
mestre Max Ophüls em "The Reckless Moment" e o atualizou com
temática homossexual.
Entre o thriller e o melodrama
familiar, a dupla de roteiristas-diretores não assume os riscos. O
resultado é uma mistura mal-ajambrada. Pior: um ranço moralista ("a família como muro protetor contra as ameaças do desejo
homossexual") compromete
mais o resultado.
Mesmo que não haja mistério a
desvendar, restaria pelo menos o
"pathos" da (falsa) culpa para
constituir alguma empatia.
O que falha, pois a mãe, na pele
de Tilda Swinton, é um monstro
de autocontrole. Seu pânico é
contido, racional. A isca para fisgar o espectador pela identificação fica, portanto, bloqueada pelo
olhar quase malévolo da atriz.
Dá para aguentar até o fim, o
que não dá para segurar é a vontade danada de pedir o dinheiro da
entrada de volta.
Até o Fim
The Deep End
Direção: Scott McGehee e David Siegel
Produção: EUA, 2001
Com: Tilda Swinton, Goran Visnjic,
Jonathan Tucker
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Frei Caneca Unibanco
Arteplex, Eldorado, Jardim Sul, Morumbi
e circuito
Texto Anterior: Cinema/Estréia - "Iris": Roteiro não acompanha qualidade de elenco do filme Próximo Texto: Copião: "O Guarani", o tribunal e o exemplo Índice
|