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"OS ELEMENTOS DO JORNALISMO"
Jornalismo conduz auto-exame da sociedade americana
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA
O jornalismo americano,
principal referência para o
brasileiro há pelo menos 50 anos,
atravessa um de seus períodos
históricos de maior perda de credibilidade.
O processo crescente de absorção de veículos de comunicação a
grandes oligopólios empresariais
com interesses múltiplos e por vezes conflitantes, a erosão das tradicionais barreiras que separam
redações de departamentos comerciais (sobretudo no setor de
revistas), a por vezes exagerada
transformação da notícia em espetáculo, o engajamento ostensivo a políticas do governo dos Estados Unidos após os atentados
de 11 de setembro e a ocorrência
de graves erros de informação,
como o recente escândalo que envolve o mais prestigioso diário do
país ("The New York Times"), são
apenas alguns exemplos dessas
dificuldades.
Como é típico da cultura coletiva dos Estados Unidos, esses temas não passam batido na própria mídia.
Ao contrário de outras sociedades, a americana nunca deixa de
se examinar nos piores momentos, mesmo quando as consequências da discussão possam ser
potencialmente prejudiciais a
seus promotores.
"Os Elementos do Jornalismo
-°O que os Jornalistas Devem Saber e o Público Exigir", livro de
Bill Kovach e Tom Rosenstiel que
acaba de ser lançado no Brasil, demonstra a veracidade das afirmações do parágrafo anterior.
Trata-se do resumo de uma
exaustiva jornada de seminários,
entrevistas e reuniões que envolveram cerca de 3.000 pessoas, inclusive 300 jornalistas, a partir de
1997, sob a coordenação desses
dois estudiosos dos veículos de
comunicação.
Também é característico do
modo de pensar e agir da maioria
dos americanos uma certa ingenuidade, a excessiva crença em
conclusões deduzidas de pesquisa
quantitativa e um otimismo quase inocente (com frequência religioso) em relação à prevalência
do "bem" sobre o "mal", na perspectiva maniqueísta que sempre
foi importante no país e que se
tornou absolutamente hegemônica desde 11 de setembro de 2001.
Essas deficiências de análise, tão
comuns em estudos acadêmicos
produzidos nos EUA, são visíveis
no trabalho de Kovach e Rosenstiel, que também cedem à recorrente tentação local de explicitar
um receituário, o qual, se seguido
pelos profissionais do jornalismo
e reivindicado por seu público,
poderá salvar a profissão e a indústria da comunicação dos demônios que as afligem.
Tais simplificações de forma
não anulam, no entanto, a relevância da maioria das constatações e mesmo dos conselhos que
Kovach e Rosenstiel alinhavam ao
longo das quase 300 páginas de
seu livro.
Trata-se de um material de
grande utilidade que, analisado
com perspectiva mais crítica e intelectualmente mais sofisticada
do que seus bem-intencionados
autores são capazes de oferecer,
pode de fato ajudar bastante a
compreender a origem das dificuldades do jornalismo contemporâneo e a conceber soluções para elas.
Dada a influência que o jornalismo americano exerce sobre o brasileiro, a leitura desse "Os Elementos do Jornalismo" é ainda
mais recomendável aqui, inclusive devido ao excelente prefácio à
edição nacional, redigido por Fernando Rodrigues, repórter especial e colunista da Folha, e à ótima
tradução de Wladir Dupont.
Carlos Eduardo Lins da Silva é diretor-adjunto de Redação do jornal "Valor Econômico".
Os Elementos do Jornalismo
![](http://www.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
Autores: Bill Kovach e Tom Rosenstiel
Editora: Geração Editorial
Quanto: R$ 29 (302 págs.)
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