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MÔNICA BERGAMO
Ana Ottoni - 31.ago.2004/Folha Imagem
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"Me deu um ataque de fúria", diz Attílio Baschera, que está convocando um protesto pela paz nas ruas |
Meu dia de periferia
O high society paulistano viveu seu dia de periferia na
segunda-feira, 15. Toques
de recolher espontâneos,
bandidos por perto, pânico nas
ruas. Foi um choque.
"Me deu um ataque de fúria",
diz Attílio Baschera, dono de
um antiquário e figura das mais
queridas do circuito Jardins/Higienópolis/Morumbi. "São Paulo vai virar o quê, uma Bagdá?".
Indignado, Attílio passou e-mail a 50 amigos conclamando
todos para um protesto. "Se podemos fazer passeata gay na
avenida Paulista, se podemos
permitir também vandalismos
depois de jogos de futebol, na
mesma avenida, por que não
podemos organizar uma grande
passeata de protesto contra a
corrupção e ineficiência de nossos dirigentes?!?!?!".
Até ontem, o resultado da iniciativa não tinha sido muito animador: ninguém havia aderido
à possível passeata. Rosângela
Lyra, que comanda a Dior no
Brasil, por exemplo, repassou o
e-mail a amigos e embarcou para Nova York.
Attílio não desanima. "É um
pensamento meio revolucionário: precisamos aguçar, chacoalhar as pessoas para uma atitude
mais drástica", diz ele, que ainda sonha em "colocar 2 milhões
de pessoas na Paulista".
Uma locadora de veículos em
Moema informava que quase
dobrou o número de locações
de carros blindados de luxo na
segunda: passou de cinco (a média normal) para nove. Os modelos mais procurados foram o
Passat e o Omega -a 1.000
cada 24 horas.
A rotina de festas nos bairros
nobres se alterou de forma radical. Às 16h da segunda, com 40
rebeliões em curso em presídios
e dezenas de pessoas morrendo
nas ruas, o consultor de etiqueta
Fábio Arruda concluiu que o
melhor a fazer era adiar a festa
de seu aniversário, que seria comemorada em um restaurante
dos Jardins. "A cidade estava
um caos e era a hora do "dá ou
desce". Resolvi descer, para não
começar a chorar. Desmarquei
a festa. Não havia clima!"
Arruda foi à luta. "Armei uma
pequena operação de guerra",
diz. Ligou para socialites como
Betty Szafir e Cecília Neves e pediu ajuda para avisar os 200
convidados de que naquele dia
não teriam festa. "O problema é
que muitos celulares não funcionam. Está um inferno!", desabafava ele, no meio da operação-desmonte. "A meia dúzia
que eu avisei me disse que já não
ia mesmo, porque estava com
medo", diz a amiga Betty Szafir,
que passou o dia trancada em
casa, nos Jardins.
E lá se foram para o lixo os 40
arranjos de orquídeas que decorariam a festa de Arruda, assim
como grande parte do "arroz de
puta rica", recheado com frutos
do mar. As garrafas de champanhe, que já estavam no gelo, foram salvas -ficarão para a próxima segunda, para quando foi
transferida a comemoração.
Já os 36 kg de patê (fígado, "egg
salad", coalhada) seriam jogados fora. "Não dá para guardar.
Vai estragar!", desabafava Arruda. "Pedi dois motoristas emprestados de minhas amigas para levar os docinhos [são 1.600,
fora o bolo de oito quilos] para
instituições de caridade." Outro
problema: "Trouxe para o restaurante 350 hipopótamos [bonecos de vários tamanhos, de
sua coleção particular]. Precisei
de um caminhãozinho e agora
terei que levar tudo de volta!"
Eram também 16h quando, no
Alto de Pinheiros, o arquiteto
Marcelo Faisal, também com
festa de aniversário marcada,
deu a ordem: "Cancela tudo!".
"Realmente, hoje não é dia de
festa, né? É um dia triste", comentava com a coluna, por telefone, interrompendo para atender o celular: "Oi, Dé! Cancelei,
tá? É... Vamos marcar para
quinta-feira".
"Tô" exausto de ficar ao telefone! Imagina, desmarcar com
150 convidados. É super desagradável!", dizia. "E o "TV Fama"
vinha, o [apresentador da TV
Gazeta] Rammy vinha... É muito chato", contava Faisal. E,
atendendo outro "desconvidado" ao celular: "Quero fazer a
festa na quinta. Mas vai depender desse estresse da cidade".
O prejuízo "é pequeno, mas
existe", segundo Faisal. Dos 72
litros de sopa e macarrão, grande parte seria jogada fora. "Estou superchateado". As guarnições da massa, como o champignon de Paris, foram levados
por funcionários, que, sem ônibus, partiram para a casa nos
carros do bufê.
Foram dezenas de eventos
cancelados. O promoter Cacá
Ribeiro, um dos organizadores
da inauguração do Salão de Festas da Casa Cor, no Jockey,
adiou sua festa. "Super chato,
né? O problema é que, em uma
festa grande, para 1.500 pessoas,
não dá para desconvidar todo
mundo. Então colocamos umas
duas ou três pessoas na porta do
Jockey". Quem chegava recebia
o aviso de cancelamento e um
docinho como consolo.
Foram distribuídos para funcionários ou jogados no lixo os
30 arranjos de orquídeas e as dezenas de bem-casado.
CURTO-CIRCUITO
O antropólogo Rodolfo Guttilla lança hoje, às 18h30, o livro
"A Casa do Santo & o Santo de Casa", na Livraria da Vila.
O bar Mosteiro de San Galo será inaugurado hoje, a partir das
20h, na Vila Madalena (rua Harmonia).
José Roberto Auriemo inaugura hoje outra unidade do "The
Fifties", com projeto de Sig Bergamin, na Vila Olímpia.
A Gradiente e a TVA fazem hoje, às 19h30, o coquetel de
inauguração do espaço HDTV, no shopping Iguatemi.
Bob Yang inaugura hoje, às 20h, o bar Baleares, espaço lounge
com restaurante, na rua Bela Cintra.
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