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LITERATURA
Biografia do diretor e ensaísta italiano radicado no Brasil nos anos 40 é resultado de tese de Berenice Raulino
Livro estuda Ruggero Jacobbi e o TBC
FERNANDO MARQUES
ESPECIAL PARA A FOLHA
O verso famoso de Mário de Andrade, "eu sou 300, sou 350", aplica-se perfeitamente a Ruggero Jacobbi. O italiano Jacobbi (1920-1981), que tem biografia lançada
hoje, em São Paulo, viveu de 1946
a 1960 no Brasil, multiplicado em
diretor, professor, ensaísta e crítico de teatro, além de escrever peças e poemas. Estendeu suas atividades ao cinema e à TV, tendo
saído do país sob pressão da polícia, que o acusava de comunista.
Jacobbi participou da aventura
renovadora do Teatro Brasileiro
de Comédia, companhia paulistana para a qual dirigiu peças como
"O Mentiroso", de Goldoni, e "A
Ronda dos Malandros" sucesso
de público retirado de cartaz pelo
empresário Franco Zampari.
O intelectual veneziano ganha
perfil minucioso em "Ruggero Jacobbi: Presença Italiana no Teatro
Brasileiro", de Berenice Raulino,
que resulta de tese de doutorado
apresentada em 2000 na USP.
Berenice Raulino, professora da
Unesp, chegou a Jacobbi por acaso, em visita a um sebo onde encontrou a coletânea de ensaios "A
Expressão Dramática", um dos
oito livros de Ruggero sobre teatro. Ficou "impressionada com a
lucidez" do articulista, autor também de estudos sobre a obra teatral de Gonçalves Dias, publicados em "Goethe, Schiller, Gonçalves Dias", textos capazes de reapresentar o poeta aos brasileiros.
A formação de Jacobbi, na Itália
fascista dos anos 30, se deu em
tempos de renovação teatral. Trocava-se a figura dos "matadores",
estrelas que monopolizavam as
atenções, pelo espetáculo unificado nas mãos do encenador, a
quem cabia dar coerência aos diversos elementos da montagem.
Somada à disputa entre os velhos astros e os novos homens de
teatro, havia a polêmica entre o
diretor Giulio Bragaglia, adepto
do "espetáculo absoluto", e o crítico Silvio d'Amico, defensor do
"espetáculo condicionado". Na
Itália e noutros países discutia-se
a liberdade do encenador, contraposta aos direitos do dramaturgo.
Jacobbi, de formação marcadamente literária, "valorizava o texto, mas com grande abertura de
idéias", alargando o realismo ao
incorporar processos simbolistas
e expressionistas a seus 44 espetáculos no Brasil.
Mas um de seus trabalhos mais
polêmicos, "A Ronda dos Malandros", de 1950, não se restringiu a
"difundir as idéias do texto", tarefa do espetáculo condicionado,
mas esteve perto do chamado espetáculo absoluto, em que as palavras aparecem apenas como um
dos vários ingredientes.
Mas o problema com "A Ronda
dos Malandros", adaptação da
"Ópera do Mendigo", de John
Gay, teria sido mais ideológico
que estético. O espetáculo alcançou sucesso com público popular,
pouco habitual no TBC, conta Berenice. Segundo ela, "a própria
crítica talvez não estivesse pronta
para a montagem", que terminava com o poema "Litania dos Pobres", de Cruz e Souza, contrariando padrões conservadores. A
peça foi retirada de cartaz.
De volta à Itália, Jacobbi publicaria o livro "Teatro in Brasile" e
encenaria peças como "O Pagador de Promessas", de Dias Gomes. Berenice Raulino abre caminho para a incorporação de sua
obra, espantosamente rica, à história teatral brasileira.
Fernando Marques é jornalista e professor do Centro Universitário de Brasília
(Uniceub).
RUGGERO JACOBBI: PRESENÇA
ITALIANA NO TEATRO BRASILEIRO -
Livro de Berenice Raulino.
Editora:
Perspectiva. 292 págs.
Lançamento hoje,
no Balcão (r. Dr. Melo Alves, 150, Jardins),
a partir de 19h.
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