No Lorena 1989, Leo Botto oferece produtos artesanais; pratos têm desempenho irregular

JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA

Na contramão de restaurantes de arquitetura exuberantemente anódina, comportada, nasceu o Lorena 1989 trazendo ainda outra proposta não muito difundida: a de trabalhar direto, do café da manhã ao jantar.
A casa é obra dos donos da loja Surface to Air (sua vizinha) e do bar Secreto, mais o publicitário Lucas Mello, 28, e o chef Leo Botto, 33.
Botto, por sua vez, é sócio do La Frontera, em cuja cozinha oficiava até surgir o novo projeto. Formado em gastronomia pela Anhembi Morumbi, ele trabalhou dois anos no Julia Cocina (da chef Paola Carosella).
Na época, fez alguns estágios fora do Brasil e, em 2005, trabalhou no Martín Fierro, com cuja proprietária abriu depois o La Frontera.
O Lorena 1989 tem três ambientes, que são tranquilos durante o dia, mas já lotam no jantar. No salão principal, a decoração é eclética e rústica, banhada pela luz filtrada por uma claraboia.
Em qualquer dos níveis pode-se fazer as refeições, tomar café ou um lanche. Grande parte dos ingredientes -pães, massas, geleias, doces- é feita na casa.
Em muitos casos, os ingredientes são orgânicos e de pequenos produtores. Eles compõem um cardápio curto onde sobressaem entradas, tapas e petiscos, e alguns poucos pratos principais.
O esforço em oferecer uma variedade interessante de petiscos não é em vão -é nesse departamento que estão as melhores opções, em contraste com um desempenho irregular dos pratos.
As entradinhas do mar têm intensidade de sabor, aguçam as papilas já pelos aromas que liberam. Exemplos flagrantes: espeto de polvo, limão-siciliano, atum branco e lula; espeto de camarão rosa e chorizo; lulas com molho provençal e tomate italiano.
A mesma emoção não causam o risoto com tomate, brócolis e lula grelhada (sem sal, sem profundidade no caldo de cozimento) e a paleta de vitelo "assada da noite para o dia" (mas talvez pouco marinada, pois sem sabor) com seu suco, massa (grudada) e farofa de pão.
Mas nem tudo desaponta. Lembrando o La Frontera, há o nhoque rústico recheado de mozarela, creme de parmesão e farofa de pão (ainda não no mesmo nível de lá), e o bife ancho marinado em ervas, sal grosso e grelhado.
Sem falar num belo desempenho do peixe (do dia) com creme de coco, pedido com legumes na chapa. E, para arrematar, uma alternativa é o cheesecake com calda de frutas vermelhas.

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