São Paulo, sexta-feira, 17 de junho de 2011

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ANÁLISE

"O Sistema" é ótimo, mas ainda não produziu uma Osesp

JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A Orquestra Sinfônica Simón Bolívar e seu regente titular, Gustavo Dudamel, carregam nos ritmos e nas cores.
Produzem uma sonoridade mobilizadora, mesmo para quem espera de uma sinfonia algo próximo de uma fanfarra. Não é um defeito. É apenas um estilo.
São produtos de "O Sistema", rede venezuelana que, com quase 400 mil crianças matriculadas em 180 conservatórios, criou uma economia de escala inédita em termos de formação musical na América Latina.
Seria plausível acreditar que a Venezuela traria em suas chocadeiras algo como uma dúzia de orquestras que teriam nos próximos dez anos o padrão técnico de uma Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo).
Não parece ser o caso. Há três anos, no processo de seleção de bolsistas para o Festival de Inverno de Campos do Jordão, os candidatos venezuelanos eram razoáveis, mas não acachapantes.
Tudo indica que um dos gargalos esteja nas insuficiências do corpo docente, originário dessa imensa estrutura didática criada por José Antonio Abreu.
Países como a Rússia e a Alemanha têm educação musical obrigatória para crianças e trazem como vantagem sobre a máquina venezuelana uma tradição de excelência bicentenária.
Entre russos e alemães prevalece também uma concepção de cultura em que a música erudita ocupa um papel preponderante. Originam-se daqueles países boa parte dos grandes compositores desde o século 18. Não é o caso da Venezuela.
Mesmo assim, é mais que provável que a Venezuela tenha ultrapassado o Brasil ou mesmo a Argentina, no passado com um padrão maravilhoso de ensino, na formação de músicos profissionais.
É também óbvio que a taxa de profissionalização entre os estudantes venezuelanos seja previsivelmente pequena. Mas os que não seguem carreira formam em cada província batalhões de apreciadores de música sinfônica, que transmitirão a seus filhos um carinho particular por esse repertório.


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