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TEATRO
"Le Colonel-Oiseau", uma das preferidas no Festival de Avignon, aborda Bálcãs em mensagem otimista
Peça "enxerga" a Bulgária em hospício
HAROLDO CERAVOLO SEREZA
enviado especial a Avignon
Uma das peças mais festejadas
do 53º Festival de Avignon, "Le
Colonel-Oiseau" ("Coronel Pássaro") trata do mais grave problema político que a Europa enfrenta
hoje: os conflitos nos Bálcãs.
A mensagem pacifista -e parcialmente otimista- fez da peça
uma das preferidas, por exemplo,
do diretor do festival, Bernard
Faivre d'Arcier. Ele afirma que
"Le Colonel-Oiseau" devolve o
prazer do teatro. Conta para isso
também um uso de um palco rotativo que, se não chega a ser original, é bastante coerente, com resultados fortes e, claro, com um
bom-mocismo não igualado pelas colegas de festival.
Dirigida pelo francês Didier Bezace, o texto de Hristo Boytchev
(Bulgária) conta a vida num hospital psiquiátrico búlgaro, sediado num antigo monastério.
Um jovem médico chega ao
hospital com a promessa de um
futuro profissional promissor e se
descobre totalmente sem recursos: não há enfermeiras, não há
remédios, não há nem comida.
Passa a viver com todas as privações, entre seus pacientes. De certo modo, é um pequeno retrato da
própria Bulgária, país espremido
entre a Iugoslávia e a Turquia.
Cada louco com a sua mania,
brinca o ditado. A mania de um
deles é se dizer surdo e "ler os lábios" do noticiário da TV, que
não tem som. Todos os dias, conta a mesma notícia, com poucas
adaptações: um grupo sérvio ataca tropas da ONU nas redondezas
de Sarajevo, na Bósnia. As Nações
Unidas decidem, então, enviar a
ajuda humanitária por avião.
Quando o médico já se acredita
totalmente impotente, um pára-quedas com ajuda humanitária
destinado aos bósnios cai na área
do hospital. Ninguém sabe a razão do erro, mas as fardas do lote
têm um efeito inesperado -um
dos pacientes, até então mudo,
passa a se dizer coronel e a organizar os outros pacientes.
O grupo ganha cargos, obrigações e coerência. O médico deixa
a "experiência" seguir. Num ritmo crescente de organização, eles
decidem formar uma nova República e se alistar nos batalhões de
ajuda humanitária da ONU.
Para comunicar a decisão, pensam em utilizar o telefone do médico. Este, porém, "entra" na lógica dos pacientes -o telefone deve estar grampeado. A saída é enviar mensagens para ONU, Otan
(Organização do Tratado do
Atlântico Norte) e UE (União Européia) amarradas nos pés dos
pássaros.
A resposta, no entanto, não
vem. Quando o coronel já está desacreditado, um dos pacientes encontra um pássaro com uma etiqueta metálica típica de pesquisas
ornitológicas.
O coronel, no entanto, a entende como uma mensagem -o
0101 gravado significa que eles devem partir em direção a Estrasburgo (sede do Parlamento Europeu) no dia 1º de janeiro.
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