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"À MARGEM DA IMAGEM"
Documentário mostra múltiplas caras e atividades dos sem-teto
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Em face da barbárie que se abateu sobre os moradores de
rua de São Paulo, não há filme
mais oportuno do que o documentário "À Margem da Imagem". O que propicia a agressão
aos sem-teto é, em grande parte, o
fato de eles serem percebidos como massa amorfa e sem identidade, como estorvo à vida da metrópole, e não como indivíduos.
O que "À Margem da Imagem"
faz, antes de tudo, é conferir a cada um de seus retratados uma
voz, uma cara, uma história
-uma individualidade, enfim.
A primeira coisa que aprendemos com o filme é que não existe
um perfil único do morador de
rua. Há os temporários e os permanentes, os que trabalham e os
que mendigam, os alcoólatras e os
abstêmios.
As razões que levaram cada um
ao desabrigo também são as mais
variadas. Um era motorista e ficou paraplégico num acidente;
uma mulher matou o marido a facadas; um terceiro, articuladíssimo, vendia livros usados até que,
ao que tudo indica, sofreu um
surto psicótico. Alguns parecem
resignados, outros se revoltam,
outros ainda buscam formas de
ação social. São dezenas de indivíduos, cada um com tempo para
contar sua história, descrever seu
dia-a-dia, emitir suas opiniões.
Acompanha-se também a atividade de associações, albergues e
refeitórios filantrópicos. O resultado desse acúmulo de imagens e
informações, em que São Paulo
aparece em toda a sua inóspita
feiúra, é um painel bastante rico e
variado sobre esse singular modo
de vida que é ter a rua como moradia.
Se há um problema em "À Margem da Imagem", é uma certa dispersão. Aquele que, a julgar pelo
título, seria seu eixo central -a
discussão dos usos da imagem
dos desabrigados- acaba obscurecido por outras questões, ganhando força apenas no início,
quando se fala de Sebastião Salgado, e no final, quando os retratados vêem a si próprios numa sessão de cinema.
A frase mais contundente é a última. "Se eu bater na sua porta
amanhã, você não vai me receber", diz um morador de rua ao
diretor, e é como se falasse a cada
um de nós.
À Margem da Imagem
Produção: Brasil, 2003
Direção: Evaldo Mocarzel
Quando: a partir de hoje nos cines
Espaço Unibanco, Center Norte, Metrô
Santa Cruz e circuito
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