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DISCO/CRÍTICA
Artista assume riscos em CD pouco coeso
DA REPORTAGEM LOCAL
De início, não é menos que
glorioso poder contar com a
presença musical de Angela Maria, ativa e atuante no alto de seus
75 anos. Se cantoras de idade um
pouco maior ou menor que a dela
(Marlene, Emilinha Borba, Doris
Monteiro) foram reduzindo suas
atividades à luz de muitos percalços, Angela volta e meia retorna
como defensora de raça da "época
de ouro" da música brasileira.
Dito isso, "Disco de Ouro" é um
disco de Angela Maria à moda
clássica. Embora os arranjos sejam ligeiramente mais leves e contemporâneos que seu hábito, predomina o ambiente de samba-canção, de bolero, de dor-de-cotovelo, da melancolia altiva de
que a artista crivou a MPB.
O estranhamento decorre do fato de esse substrato de fossa servir
a canções bem mais jovens que
Angela -por exemplo, "Oceano", de Djavan, "Sozinho", de Peninha, "Faz Parte do Meu Show",
de Cazuza e Renato Ladeira.
Não adianta colocar reparo nas
escolhas surradas -Angela sempre gostou do óbvio, do ululante,
do que se comunica diretamente
com o grande público. Essas músicas são o próprio projeto da cantora de clássicos que hoje se chamariam de pop, como "Babalu" e
"Tango para Tereza".
Mesmo assim, é fácil ouvir como uma série de colisões o encontro de águas entre o vozeirão e a
ortodoxia de samba-canção de
Angela, a modernidade pop da
MPB (nem essa tão moderna assim hoje em dia) e jovens produtores musicais.
Misturar épocas e gêneros musicais é um risco, e Angela paga o
preço de assumir esse risco. "Disco de Ouro" está longe de ser seu
trabalho mais coeso ou inspirado.
Mas correr riscos após trajetória
tão longa é ousadia para poucos.
Bom-dia, senhora Angela Maria.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Disco de Ouro
Artista: Angela Maria
Lançamento: Lua Discos/MCD
Quanto: R$ 28, em média
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