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LITERATURA
A um mês de completar 87 anos, "Cadernos de Literatura Brasileira" mostra curiosidades sobre a escritora
Rachel de Queiroz ganha homenagem
MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas
Memória, muita memória nas
páginas do quarto número dos
"Cadernos de Literatura Brasileira", revista voltada para a vida e a
obra de escritores nacionais.
Dessa vez a homenageada é Rachel de Queiroz, 87 anos a serem
completados no próximo dia 17 de
novembro, autora do legendário
"O Quinze" e ganhadora do Prêmio Moinho Santista de 1996, pelo
conjunto de sua obra.
A publicação, que chega às livrarias a partir desta semana, mantém
o esmerado cuidado editorial de
sempre, e o mesmo formato que
traz introdução, biografia do autor, entrevista, ensaio fotográfico,
inéditos, ensaios sobre a obra e um
guia bibliográfico.
A seção de inéditos apresenta
trechos do livro de memórias que
Rachel de Queiroz está escrevendo
com sua irmã Maria Luiza e que
deve ser publicado no próximo
ano. Um dos fragmentos, "Não
me Deixes", trata de como, em
1920, a escritora ganhou de seu pai
as terras que se transformariam
em sua fazenda, Não me Deixes,
no Quixadá, sertão do Ceará, onde
até hoje gosta de ir para escrever.
Rachel de Queiroz é cearense de
Fortaleza. Aparentada do escritor
José de Alencar (sua bisavó materna era prima do autor de "Iracema"), sua biografia tem outras curiosidades. Por exemplo: ela conheceu o padre Cícero em pessoa,
a quem pedia a benção.
Também na área das curiosidades, os "Cadernos" enfocam a ascendência judaica da escritora. Para tanto, convidaram para a seção
da entrevista, entre outros, o rabino Henry Sobel. Como resposta à
pergunta de Sobel sobre se suas
"origens judaicas" se manifestam
em sua obra literária, Rachel responde que acredita que elas apareçam "mais no meu modo de ser,
no modo de levar a vida".
"Nós descobrimos que os Alencares era descendentes de cristãos
novos", explica, "porque na época em que a Inquisição estava no
auge na Península Ibérica, eles batizavam os judeus e mandavam as
crianças para Pernambuco. E os
judeus que queriam continuar
com suas práticas se internavam
no sertão do Cariri. Fiquei muito
orgulhosa ao descobrir essas origens, porque sempre fui muito
amiga dos judeus". Em 1985, foi
inaugurada em Tel Aviv, Israel, a
creche "Casa de Rachel de Queiroz", em sua homenagem.
Na seção de ensaios, os "Cadernos" trazem textos do crítico Wilson Martins e das professoras Vilma Arêas, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), e Heloísa Buarque de Hollanda, da
Universidade do Rio de Janeiro,
sobre a obra da "Primeira-Dama
da República das Letras", em palavras de Martins.
Também na entrevista aos "Cadernos" está nova oportunidade
de escutar a Rachel jornalista falar
sobre sua intrigante trajetória política. Ela passou de comunista
-que foi presa e teve a obra queimada no Estado Novo- a "conspiradora" do golpe militar de 64.
Parente e amiga do então presidente Castelo Branco, participou
diretamente de seu governo.
A última aparição da escritora no
cenário político do país aconteceu
em 1991, quando recebeu, do então presidente Fernando Collor, a
Ordem Nacional do Mérito. Nos
anos 30, Rachel travara relações
com o jornalista Arnon de Mello,
pai de Collor.
Casada duas vezes, Rachel teve
uma filha do primeiro casamento,
que morreu aos 18 meses. Em 1977,
tornou-se a primeira mulher a ser
eleita para a Academia Brasileira
de Letras. A escritora vive no Rio,
em prédio do bairro do Leblon que
tem seu nome, por homenagem
dos vizinhos.
Livro: Cadernos de Literatura Brasileira -
Rachel de Queiroz
Lançamento: Instituto Moreira Salles (tel.
011/867-4077)
Quanto: R$ 18 (132 págs.)
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