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CRÍTICA
Diretor filma o silêncio
AMIR LABAKI
de Nova York
"O Silêncio" talvez seja o mais
polêmico dos filmes do iraniano
Mohsen Makhmalbaf, um velho
conhecido do público da Mostra.
Não se trata, desta vez, de mera
querela política, ainda que Makhmalbaf tenha tido que se transferir
provisoriamente para o Tadjiquistão ex-soviético para rodar o filme.
A censura iraniana amainou, mas
continua poderosa.
O debate em torno de "O Silêncio" trata de seu pretenso esteticismo. No lançamento durante o Festival de Veneza, o cineasta foi acusado de se aproximar da estética
publicitária da Benetton -e não
se tratava de dúbio elogio.
A discussão procede. "O Silêncio" traz um Makhmalbaf distinto.
Está lá a tradicional mistura entre
documentarismo e ficção, com
personagens e locações emprestando concretude a tênues tramas.
Mas mudou a estratégia narrativa. Mesmo em "Gabbeh" (1996),
sobre a tecelagem de tapetes, o todo (a história) impunha-se sobre
as partes (anedotas, planos de puro deslumbramento visual).
Dá-se o inverso em "O Silêncio".
O aspecto fabulístico tem aqui importância ainda menor. O projeto
de Makhmalbaf é de um ensaio semificcional sobre o cinema e o
som, algo na linha do belo curta "O
Som ou o Tratado da Harmonia"
(1984), do brasileiro Arthur Omar.
A história apenas prepara o terreno para o exame das articulações
entre imagem e som -na vida, assim como no cinema. Um menino
cego trabalha afinando instrumentos para ajudar no sustento da
mãe. Os rotineiros atrasos dele
comprometem o emprego bem na
hora errada: o proprietário quer de
volta a casa em que vivem.
Cegueira e música serão as ferramentas fundamentais para a pesquisa de Makhmalbaf. Não ver
aguça a audição. Ouvir o ritmo das
notas mimetiza a poesia das cores.
Cegueira não implica silêncio visual. Silêncio não equivale a cegueira auditiva.
Uma jovem dança sensualmente,
para escândalo dos fundamentalistas. Toda uma cultura se afirma
por meio de tintas fortes. Canções
populares misturam-se com a "5ª
Sinfonia", de Beethoven.
Makhmalbaf aposta na reeducação dos sentidos. Peca pelo excesso, apesar de o filme não durar
mais que 76 minutos. Mas, reconheça-se, "O Silêncio" é de um colorido ensurdecedor.
²
Filme: O Silêncio
Produção: Irã, 1998
Direção: Mohsen Makhmalbaf
Quando: hoje, às 19h30, no Cinearte 1 (av.
Paulista, 2.073, tel. 011/285-3696)
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