JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA

Aberto há quase um mês, o Zest Italian Grill tem qualidades e boas idéias. Nem todas são executadas a contento, parecem ainda esperar uma costura adequada. Mas já atrai o interesse um restaurante que: quer mostrar uma faceta diferente da cozinha italiana, em que os grelhados têm um papel preponderante; abastece-se de carnes de primeira para isso; utiliza o velho e bom carvão para grelhar suas carnes; incentiva que se coma à moda italiana, primeiro antepasto, depois massa ou risoto, depois carne e guarnição, depois sobremesa; cria uma mesa dentro da cozinha (embora o calor não favoreça) para os aficionados que gostam de acompanhar a confecção dos pratos; e por aí vai.
Tudo isso imaginado por um brasileiro criado nos Estados Unidos. O proprietário e chef Michel Revy, 28, é paulistano mas dos 13 aos 20 anos morou com os pais nos EUA. Aos 17, começou a trabalhar como garçom; aos 20, foi para o Rio de Janeiro, onde trabalhou no Outback e na churrascaria Mariu's antes de ser sócio do restaurante U.S. Prime. Durante três anos fez consultoria para Eurico Cunha, conhecido proprietário de cerca de 20 restaurantes. Agora, de volta a São Paulo, abriu seu próprio negócio.
O Zest fica num espaço pequeno, mas bem ajeitado, com uma decoração limpa e clara, embora bem fria. Pelo preço dos pratos, os clientes podem passar sem toalhas de mesa (ainda mais se estas tivessem tampos mais bonitos), mas bem que merecíamos guardanapos de verdade.
No prato, o desempenho é desigual, com alguns bons momentos. Como entrada, boa lingüiça grelhada inteira, com pimentões, sobre pão tostado na grelha; e crocantes ravioli fritos, um petisco difícil de achar aqui. A salada Mediterrâneo (folhas, azeitonas, ricota, tomates, pancetta), enorme para ser pedida como entrada, tem um molho de vinagre balsâmico muito acentuado. Uma boa massa são os bucatini com molho de tomate levemente picante -outra opção são os fusili ao pesto (neste caso, adaptado com parmesão e nozes).
O chef mostra perícia na grelha ao fazer um atum malpassado, suculento, com legumes (uma das opções de acompanhamento). Já a bisteca à fiorentina -não é a bisteca com osso, é um bife ancho- vem servida em duas fatias, uma das quais ao ponto, outra além do ponto, quando foram pedidas malpassadas; a guarnição, purê de batata com a casca, poderia ter mais alho e azeite, para ganhar mais sabor. As guarnições são enormes, estilo americano. Como sobremesa, o tiramisù é um equívoco: no lugar do cremoso pavê (feito com biscoito tipo champagne que é embebido até amolecer em café e rum), foi feita uma pilha de biscoitos secos e duros.
Um detalhe: os erros de grafia (em português inclusive), generalizados nos restaurantes da cidade, repetem-se no Zest (raviolis fritti, burro ai erbas e por aí afora), mas com um agravante: os pratos escritos em italiano têm tradução errada para o português (e não são corrigidos pelos garçons). Exemplos: salsiccia (lingüiça) é traduzida por salsicha; verdure (legumes) vira verduras; pimento (pimentão), pimenta -o que faz uma enorme diferença.