"Atrás da Imagem", dirigido por Guilherme Coelho, estréia hoje em São Paulo

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois da linguagem direta de "Fala Tu", documentário premiado em festivais no Brasil e participante da Berlinale em 2004, seu diretor, Guilherme Coelho, 27, muda o foco no segundo título. "Fernando Lemos - Atrás da Imagem" estréia hoje no Cine Bombril, dentro do Folha Documenta, e mergulha no intimismo do processo criativo de Lemos, 80.
Fotógrafo, artista plástico, designer e poeta português radicado no Brasil, o surrealista Lemos ganhou diversos prêmios por seus trabalhos, exibidos em eventos de peso, como a Bienal de São Paulo.
A relação do artista com a cidade é parte importante do filme. O olhar "amador" de Coelho é salientado pelo ineditismo de o diretor filmar fora do Rio. "São Paulo era um grande enigma", resume Coelho, que optou por um registro diverso do presente em "Fala Tu". O título enfocava três personagens que tentavam seguir carreira no universo do hip hop.
"Cada filme pede um tratamento. Tentei que o próprio processo criativo de Lemos, que prega o livre fluir das idéias, comum na poética surrealista, fosse refletido no documentário", conta ele.
Assim, o olhar de Coelho em relação a paisagens corriqueiras de São Paulo -as fachadas comerciais de ruas de Pinheiros, os grafismos das pichações, a movimentação das composições de metrô e trem, por exemplo- tem ritmo mais cadenciado e revela o fascínio do autor do filme pela cidade.
"Acho que as cenas externas captam essa aventura de um carioca filmar a cidade, há um certo embaralhamento", afirma o diretor. Em várias cenas, Coelho utiliza a superposição de imagens, que mimetiza a própria produção fotográfica do artista português.
O próximo projeto de Coelho é lançar o documentário "Recruta", sobre o cotidiano de jovens que ingressam na carreira militar, que ainda depende de recursos para chegar às telas.

Retrospectiva
Grande parte de "Fernando Lemos" foi filmado em seu ateliê no Butantã, próximo de sua casa, onde recebeu a Folha.
O fotógrafo e artista, radicado desde 1954 em São Paulo, está pesquisando seus arquivos para preparar uma retrospectiva, a ser montada pela Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, em 2008. "Ultimamente, ando vasculhando minhas coisas, minhas memórias."
A mostra deve reunir fotografias, telas, gravuras, desenhos e cadernos de Lemos, incluindo sua recente produção, a série "Rejeitadas". "Utilizo fotos de amadores que não saíram bem e acabariam sendo jogadas fora. Interfiro nelas e descubro novas imagens e formas", diz Lemos, cuja principal exposição recente no Brasil foi exibida na Pinacoteca do Estado, em 2004.