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São Paulo, sábado, 18 de janeiro de 2003

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LIVRO/LANÇAMENTO

"OTTO MARIA CARPEAUX"

Segundo volume de "Ensaios Reunidos", obra completa do escritor, chega às livrarias em maio

Carpeaux volta ao trilho da durabilidade

DA REPORTAGEM LOCAL

Quando começou a fazer sua pesquisa, em 1995, Mauro Souza Ventura teve que frequentar dezenas de sebos, em busca dos cerca de 20 livros publicados por Otto Maria Carpeaux no Brasil.
O "homem mais culto e inteligente que toda uma geração conheceu", no dizer do escritor e colunista da Folha Carlos Heitor Cony, estava longe das livrarias.
Quatro anos depois, esse quadro mudou. Em 1999, a editora Topbooks (de "De Karpfen a Carpeaux") começou, junto com a UniverCidade Editora, um ambicioso projeto de reedição em dez volumes da obra de Carpeaux, coordenado pelo jornalista e ensaísta Olavo de Carvalho.
O primeiro volume dos "Ensaios Reunidos", que saiu em julho desse ano, reuniu em quase mil páginas seis dos principais livros de Carpeaux: de "A Cinza do Purgatório" (42), onde compilou seus primeiros ensaios brasileiros, até "Livros na Mesa" (78).
E o segundo "tijolo" está prestes a sair. Segundo o editor da Topbooks, José Mário Pereira, as cerca de mil páginas com artigos feitos originalmente para periódicos (grosso da produção de Carpeaux) e com prefácios e introduções devem estar nas livrarias durante a Bienal do Rio, em maio.
A simples escalação do "elenco" sobre o qual escreve Carpeaux nesse volume indica o "universalismo" que se atribui "ad infinitum" a seu trabalho: escritores como Italo Svevo, Mário de Andrade e Ernest Hemingway (autor que lhe valeu 80 páginas de análise, tiradas do seu livro "Hemingway"), músicos como Bach e Mozart, ou o pintor El Greco.
De acordo com Ventura, o ensaísta conseguia lidar com personagens tão diferentes sob uma perspectiva única -característica que nunca se conseguiu apontar.
"Ele sempre enxerga a arte sob o prisma do símbolo. A obra de arte para ele tem valor na medida em que é monumento, símbolo. Ele recusa as manifestações artísticas alegóricas", afirma o pesquisador. Nas palavras do próprio Carpeaux, "nasce uma obra de arte se o autor chega a transformar a emoção em símbolo; se não, ele só consegue uma alegoria".
No texto, publicado em "A Cinza do Purgatório" (1942), ele conclui, com o português claro que lhe acompanhou, que "a expressão simbólica é o privilégio do poeta. Tanto mais durável é a sua obra quanto mais universal o símbolo". Depois de um longo hiato, onde só podia ser encontrada na poeira dos sebos, a escrita cheia de símbolos e universalidades de Carpeaux parece voltar ao trilho, também, da durabilidade.
(CASSIANO ELEK MACHADO)


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