|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Ricardo 3º" é só máscara
do enviado a Curitiba
A tragédia "Ricardo 3o", com a
qual William Shakespeare (1518-1676) encerra a tetralogia sobre a
Guerra das Rosas (embate entre
os York e os Lancaster na Inglaterra do século 15), estabelece associação imediata com a luta pelo
poder que perpassa todas as épocas. A montagem da Cia. Odeon,
de Belo Horizonte, que estréia hoje na mostra oficial em Curitiba,
procura explorar também a alma
teatral do personagem.
"Na disputa inescrupulosa pelo
trono, Ricardo utiliza perfeitamente a máscara e o fingimento.
Claro que o ofício do ator não
atinge a sordidez do personagem,
mas a aventura do intérprete no
teatro é tão suicida quanto, no
sentido de atirar-se com a igual
crueldade", explica a diretora Yara de Novaes, 33.
A partir da tradução de Ana
Amélia Carneiro de Mendonça, o
espetáculo pretende traçar um
paralelo entre a efemeridade humana e a do teatro.
São dez atores, ocupando uma
estrutura de ferro ("ora um trono,
ora uma sala") criada pela cenógrafa Daniela Thomas, com assistência de André Cortez.
O protagonista é Jorge Emil,
que contracena com Ana Prado,
Nivaldo Pedrosa, Cristina Villaça
e Gustavo Werneck, entre outros.
Com a eminente morte do irmão, o rei Eduardo 4º, Ricardo
elimina os filhos deste e ainda outro irmão, Clarence, para usurpar
o trono. Suas "armas" principais
são "um sorriso sarcástico nos lábios, para mascarar, e uma enorme capacidade retórica", informa
o programa da peça. Dois anos
depois, tombará numa batalha.
"O espetáculo realça a atualidade do texto e coloca em evidência
a traição, a violência, a dissimulação e a quase total falta de ética",
continua o texto do programa, em
impressionante sintonia com a
cena política brasileira.
Foram acrescentados breves
trechos de outras peças de Shakespeare, como "Sonho de uma
Noite de Verão" e "A Megera Domada". A pesquisadora Aimara
da Cunha Resende, especializada
na obra do dramaturgo inglês,
orientou o trabalho da Odeon.
"Ricardo 3o" cumpriu temporada em Belo Horizonte no final
do ano passado. Trata-se da quinta direção na carreira de Yara de
Novaes, dona de bagagem no palco como atriz.
(VS)
Texto Anterior: 9º Festival de Teatro de Curitiba: Qorpo Santo revive em Curitiba Próximo Texto: "Som e Fúria" investiga pop Índice
|