São Paulo, sábado, 18 de março de 2000


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"Ricardo 3º" é só máscara

do enviado a Curitiba

A tragédia "Ricardo 3o", com a qual William Shakespeare (1518-1676) encerra a tetralogia sobre a Guerra das Rosas (embate entre os York e os Lancaster na Inglaterra do século 15), estabelece associação imediata com a luta pelo poder que perpassa todas as épocas. A montagem da Cia. Odeon, de Belo Horizonte, que estréia hoje na mostra oficial em Curitiba, procura explorar também a alma teatral do personagem.
"Na disputa inescrupulosa pelo trono, Ricardo utiliza perfeitamente a máscara e o fingimento. Claro que o ofício do ator não atinge a sordidez do personagem, mas a aventura do intérprete no teatro é tão suicida quanto, no sentido de atirar-se com a igual crueldade", explica a diretora Yara de Novaes, 33.
A partir da tradução de Ana Amélia Carneiro de Mendonça, o espetáculo pretende traçar um paralelo entre a efemeridade humana e a do teatro.
São dez atores, ocupando uma estrutura de ferro ("ora um trono, ora uma sala") criada pela cenógrafa Daniela Thomas, com assistência de André Cortez.
O protagonista é Jorge Emil, que contracena com Ana Prado, Nivaldo Pedrosa, Cristina Villaça e Gustavo Werneck, entre outros.
Com a eminente morte do irmão, o rei Eduardo 4º, Ricardo elimina os filhos deste e ainda outro irmão, Clarence, para usurpar o trono. Suas "armas" principais são "um sorriso sarcástico nos lábios, para mascarar, e uma enorme capacidade retórica", informa o programa da peça. Dois anos depois, tombará numa batalha.
"O espetáculo realça a atualidade do texto e coloca em evidência a traição, a violência, a dissimulação e a quase total falta de ética", continua o texto do programa, em impressionante sintonia com a cena política brasileira.
Foram acrescentados breves trechos de outras peças de Shakespeare, como "Sonho de uma Noite de Verão" e "A Megera Domada". A pesquisadora Aimara da Cunha Resende, especializada na obra do dramaturgo inglês, orientou o trabalho da Odeon.
"Ricardo 3o" cumpriu temporada em Belo Horizonte no final do ano passado. Trata-se da quinta direção na carreira de Yara de Novaes, dona de bagagem no palco como atriz. (VS)


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