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Considerado um dos maiores fotógrafos documentaristas da atualidade, brasileiro radicado em Paris lança o megaprojeto "Êxodos"
Êxodos
Sebastião Salgado
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Campo de refugiados ruandeses em Benako, na Tanzânia, fotografado em 1994 |
Corpos em movimento, não por opção, mas em fuga: sete anos de trabalho de Sebastião Salgado, que agora se concretizam em livros, mostras, palestras e filmes
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EDER CHIODETTO
Editor-adjunto de Fotografia
Fugir. Fugir de casa, da cidade,
do país, não por opção, mas por
imposição política ou econômica
foi o tema que mobilizou o fotógrafo e economista Sebastião Salgado nos últimos sete anos.
Após viajar por mais de 40 países fotografando a saga de personagens em meio a fome, guerras,
doenças e discriminação de toda
ordem, ele lança agora dois livros:
"Êxodos" e "Retratos de Crianças
do Êxodo", e um alerta: "Nossa
sobrevivência está ameaçada".
Salgado, ele próprio um refugiado do regime militar que migrou
para a Europa nos anos 60, faz
com suas imagens uma proposta
de revolução. "Pretendo, com esse trabalho, criar um debate em
escala mundial."
Ambição desmesurada? Pode
ser. Mas é de causar inveja a qualquer político do mundo a forma
como "Êxodos" irá propagar a
utopia libertária salgadiana mundo afora no combate às mazelas
contemporâneas.
Os dois livros são apenas o começo, a leitura obrigatória para
instrumentalizar as pessoas para
o "grande debate". Uma mega exposição, com 350 fotos e mais 850
projeções, irá inundar o Sesc
Pompéia a partir de 18 de abril.
Antes disso, "Êxodos" já terá estreado em Nova York e em Paris.
Até o final de 2001, a mostra terá
passado por 16 das principais capitais do mundo. Só no Brasil, ela
excursionará por dois anos.
Além da mostra, a TV francesa
está produzindo 30 documentários de 3 minutos cada um, com
as imagens de Salgado. Ao mesmo tempo, o diretor e ator Tim
Robbins finaliza "Êxodos", o longa metragem, roteirizado pelo escritor José Saramago, para a BBC.
Mais? Em São Paulo ocorrerão
workshops com a equipe que trabalha com Salgado. Um módulo
de cursos, sobre as imagens e as
histórias do fotógrafo, está sendo
montado pelo Sesc para professores. A idéia é levar imagens para
discussão em sala de aula com
crianças e adolescentes. Fora isso,
muitas mesas de debates estão
sendo planejadas em todas as capitais por onde passará "Êxodos".
O site de Salgado, ainda inexistente, será lançado durante a exposição em São Paulo.
As imagens que integram "Êxodos", editado no Brasil pela Cia.
das Letras, fazem parte da série de
reportagens publicadas com exclusividade no Brasil pela Folha
nos últimos anos.
O livro, com projeto gráfico de
Lélia Wanick Salgado, diretora da
Amazonas Images e mulher de
Salgado, possui 432 páginas, mais
de 500 imagens e quatro grandes
capítulos: "Migrantes e refugiados: o instinto da sobrevivência";
"A tragédia africana: um continente à deriva"; "A América Latina: êxodo rural, desordem urbana" e "Ásia: a nova face urbana do
mundo".
Na maioria das vezes, Salgado
encontrou esses migrantes em
campos de refugiados, favelas, estradas, estações de trens. Muitos
estavam no pior momento de
suas vidas. Amedrontados, feridos, humilhados e famintos.
"Mesmo assim ele se deixavam
fotografar, porque queriam que
essa situação fosse conhecida.
Eles se dirigiam para a câmera como se fosse um microfone onde
pudessem fazer seu protesto", diz.
Porta-voz de tanta indignação,
Salgado busca refúgio nas palavras: "Não podemos nos permitir
desviar os olhos".
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