São Paulo, sábado, 18 de março de 2000


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Considerado um dos maiores fotógrafos documentaristas da atualidade, brasileiro radicado em Paris lança o megaprojeto "Êxodos"
Êxodos

Sebastião Salgado
Campo de refugiados ruandeses em Benako, na Tanzânia, fotografado em 1994



Corpos em movimento, não por opção, mas em fuga: sete anos de trabalho de Sebastião Salgado, que agora se concretizam em livros, mostras, palestras e filmes


EDER CHIODETTO
Editor-adjunto de Fotografia


Fugir. Fugir de casa, da cidade, do país, não por opção, mas por imposição política ou econômica foi o tema que mobilizou o fotógrafo e economista Sebastião Salgado nos últimos sete anos.
Após viajar por mais de 40 países fotografando a saga de personagens em meio a fome, guerras, doenças e discriminação de toda ordem, ele lança agora dois livros: "Êxodos" e "Retratos de Crianças do Êxodo", e um alerta: "Nossa sobrevivência está ameaçada".
Salgado, ele próprio um refugiado do regime militar que migrou para a Europa nos anos 60, faz com suas imagens uma proposta de revolução. "Pretendo, com esse trabalho, criar um debate em escala mundial."
Ambição desmesurada? Pode ser. Mas é de causar inveja a qualquer político do mundo a forma como "Êxodos" irá propagar a utopia libertária salgadiana mundo afora no combate às mazelas contemporâneas.
Os dois livros são apenas o começo, a leitura obrigatória para instrumentalizar as pessoas para o "grande debate". Uma mega exposição, com 350 fotos e mais 850 projeções, irá inundar o Sesc Pompéia a partir de 18 de abril. Antes disso, "Êxodos" já terá estreado em Nova York e em Paris. Até o final de 2001, a mostra terá passado por 16 das principais capitais do mundo. Só no Brasil, ela excursionará por dois anos.
Além da mostra, a TV francesa está produzindo 30 documentários de 3 minutos cada um, com as imagens de Salgado. Ao mesmo tempo, o diretor e ator Tim Robbins finaliza "Êxodos", o longa metragem, roteirizado pelo escritor José Saramago, para a BBC.
Mais? Em São Paulo ocorrerão workshops com a equipe que trabalha com Salgado. Um módulo de cursos, sobre as imagens e as histórias do fotógrafo, está sendo montado pelo Sesc para professores. A idéia é levar imagens para discussão em sala de aula com crianças e adolescentes. Fora isso, muitas mesas de debates estão sendo planejadas em todas as capitais por onde passará "Êxodos". O site de Salgado, ainda inexistente, será lançado durante a exposição em São Paulo.
As imagens que integram "Êxodos", editado no Brasil pela Cia. das Letras, fazem parte da série de reportagens publicadas com exclusividade no Brasil pela Folha nos últimos anos.
O livro, com projeto gráfico de Lélia Wanick Salgado, diretora da Amazonas Images e mulher de Salgado, possui 432 páginas, mais de 500 imagens e quatro grandes capítulos: "Migrantes e refugiados: o instinto da sobrevivência"; "A tragédia africana: um continente à deriva"; "A América Latina: êxodo rural, desordem urbana" e "Ásia: a nova face urbana do mundo".
Na maioria das vezes, Salgado encontrou esses migrantes em campos de refugiados, favelas, estradas, estações de trens. Muitos estavam no pior momento de suas vidas. Amedrontados, feridos, humilhados e famintos. "Mesmo assim ele se deixavam fotografar, porque queriam que essa situação fosse conhecida. Eles se dirigiam para a câmera como se fosse um microfone onde pudessem fazer seu protesto", diz.
Porta-voz de tanta indignação, Salgado busca refúgio nas palavras: "Não podemos nos permitir desviar os olhos".


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