São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 2008

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Crítica/"Hard Candy"

Na busca por inovar, Madonna é a "material girl" de sempre

Parceria com Timbaland, Williams e Timberlake tem alguns tropeços e boas faixas dançantes

BRUNO PORTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em entrevista publicada no último dia 11 na Ilustrada, Madonna declarou que hoje, 25 anos após o disco de estréia, sua música está mais complexa. "Minhas canções atuais têm mais senso de ironia ou contradição que no passado", disse. Não é o que mostra "Hard Candy" (Warner), seu mais recente CD, que chega ao Brasil no dia 28.
O disco traz a "material girl" de sempre. Ou seja, é mais uma coleção competente de faixas dançantes. E só. Nem menos nem mais que isso. Quem acha Madonna uma deusa continuará pensando assim. Quem discorda não vai mudar de idéia. Para tentar reciclar seu público e se manter em dia com o que há de novo no pop, de tempos em tempos Madonna faz parcerias com artistas em alta entre os jovens. Em 1998, por exemplo, chamou William Orbit para produzir "Ray of Light". "Music" (2000) foi produzido também por Orbit e pelo francês Mirwais. Há alguns anos, tentou se aproximar de Eminem, que a teria esnobado.
Ela volta a recorrer a esse artifício em "Hard Candy": Timbaland e Pharrell Williams produziram o disco, que tem vocais do popstar Justin Timberlake.
Timbaland e Williams estão entre os produtores mais requisitados dos EUA. O primeiro já trabalhou com a nata do hip hop (Missy Elliott, Jay-Z); o segundo é a alma por trás de "Justified", CD que fez de Timberlake um astro respeitado pela crítica. A soma desses talentos, porém, não torna "Hard Candy" um CD excelente. Em algumas faixas, a química não funciona. É o caso de "She's Not Me", "Incredible" e "Beat Goes on", as três produzidas por Williams. O americano exagerou na dose de batidas mirabolantes e barulhinhos, deixando as faixas sem unidade, sem cara.
Williams também errou ao homenagear os anos 80 nas três músicas, abusando dos sintetizadores. Em outros momentos, os produtores acertam, e Madonna erra. "4 Minutes" é um exemplo. Os vocais mal dizem a que vieram. Timberlake canta nessa e em "Dance 2night", "Devil Wouldn't Recognize You" e "Voices", mas suas participações são discretas demais. Se o CD fosse um filme, não seria errado dizer que ele faz uma ponta.
Algumas faixas, porém, compensam os tropeços. A de abertura, "Candy Shop", com seus beats meio afro, é um dos pontos altos. Remete aos bons momentos de Missy Elliott. "Spanish Lessons" -uma aula de espanhol, literalmente- vai pelo mesmo caminho, com potencial para incendiar pistas. A quase balada "Miles Aways", mais íntima, é outro acerto. Pegando carona na moda, Madonna flerta com o funk carioca na monótona "Give It 2 Me".
As letras são fracas, como sempre. A maioria mescla feminismo de botequim com pitadas de hedonismo. "She's Not Me" ("Ela tenta ser/ Mas ela não sou eu") parece recado às aspirantes a Madonna, que faz 50 anos em agosto. Mas "Hard Candy" garante sobrevida ao mito, que segue nota dez em marketing e cinco em música.


HARD CANDY
Artista:
Madonna
Gravadora: Warner
Quanto: R$ 39,90 (lançamento previsto para 28/4)
Avaliação: bom


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