São Paulo, Terça-feira, 18 de Maio de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EXPOSIÇÃO
Fotógrafo abre hoje mostra com grandes ampliações de seus trabalhos no Senac, em São Paulo
David Zingg vê o Brasil e seus brasileiros

ANA MARIA GUARIGLIA
free-lance para a Folha

Junto aos mitos importados da fotografia brasileira que registraram os momentos históricos do país nos anos 30, 40 e 50, como Pierre Verger (1902-1996), Marcel Gautherot (1910-1996) e Jean Manzon (1915-1990), o norte-americano David Zingg representa o fotojornalismo dos anos subsequentes.
A partir da década de 60, a fotografia deixou de ser a prova submissa comprometida com o texto. Zingg se fixou no país exatamente nessa hora.
Ao retratar figuras nada convencionais da cultura brasileira no período militar, como a atriz Leila Diniz (1945-1972), Zingg flagrou uma época, tornando-se seu sinônimo e sua expressão.
Esse comportamento será mostrado na exposição que o Senac inaugura hoje e que integra o 4º Mês Internacional da Fotografia, promovido pelo NaFoto.
Na extravagância das fotos que chegam a medir 4 m por 6 m, o fotógrafo aposta no impacto das imagens. "Não me interesso mais por fotinhos 20 cm por 25 cm."
Aos 75 anos, Zingg ainda transpira curiosidade - está usando um micro Macintosh para experiências com fotos digitais - e continua não tendo assuntos específicos para mostrar."Tudo é importante, tudo nos remete à memória."
Nascido em Montclair, em Nova York, Zingg foi amigo do ex-presidente John Kennedy, assassinado em 1963, de Duke Ellington e de Che Guevara, com quem jantou na casa dos Rockefeller.
Nos EUA, escreveu e fotografou para revistas como "Life", "Vogue" e "Esquire". Chegou ao país em 1959 e trabalhou na "Manchete", "Cláudia" e "Isto É" , entre outras, e hoje é colunista da Folha.
Abaixo, leia algumas dicas sobre seu trabalho na exposição.
Folha - De onde veio a idéia de apresentar fotos gigantes?
David Drew Zingg -
Com toda essa coisa de vídeo, de cinema e outras mídias, a fotografia está perdendo a emoção dos anos passados. Estou de saco cheio de fotos pequenas. Acho que a foto tem que ser considerada uma preciosidade, como essa ampliação de 4 m por 6 m, que mostra a parede de uma igreja mineira. Está cheia de fotinhos de pessoas. Achei legal ampliar porque o espectador vai curtir umas duas horas. Tem fotos dentro das fotos e histórias.
Folha - Por que o tema da mostra é somente o Brasil?
Zingg -
São os trabalhos que me trouxeram para cá. Tenho milhares de fotos e fazer uma exposição é um desafio. É difícil descobrir qual é a direção a ser seguida. Nesses últimos 30 anos, morando aqui, acredito que o país perdeu sua inocência e essa idéia está visível na exposição.
Folha - Como é essa homenagem ao artista Hélio Oiticica?
Zingg -
Foi um grande amigo e o homenageio com as bandeiras.Temos dez horizontais e verticais, com 2 m por 3 m. Eu tinha uma galeria no Rio, a G4, que apresentava "novos artistas". O Oiticica fazia parte deles.
Folha - Como seria sua definição sobre as fotos da fase brasileira?
Zingg -
Na minha vida, fui sempre um pouco político. Nunca estive a favor dos milicos, e agia meio camuflado para passar o que pensava e sentia por meio das minhas imagens. Essa é a época que estou mostrando na exposição. Tudo mudou muito violentamente e não só aqui, no mundo todo.

Exposição: David Drew Zingg - Despachos de uma Terra Perdida
Quando: hoje, às 20h30 (encontro com o fotógrafo, a partir das 19h30); seg. a sex., das 9h às 22h; até 18 de junho
Onde: Senac (rua Scipião, 67, Lapa, tel. 011/3872-6722)
Quanto: entrada franca


Texto Anterior: Drum ´n´ bass: DJ Patife é outra revelação de SP
Próximo Texto: Mostra apresenta intimidade com o país
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.