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Mostra apresenta intimidade com o país
MATINAS SUZUKI JR.
As fotografias dessa exibição são
fragmentos de uma história parcialmente completa de uma nação
chamada Brasil e de seus personagens, principalmente da área artístico-cultural, vista através das lentes de um homem que mantém
uma relação de intimidade com o
país e seu povo há 40 anos.
As imagens, em sua maioria, se
concentram na metade dos anos
60 e 70, mas algumas delas chegam
em tempos mais recentes.
Nas suas andanças pelo Brasil,
Zingg fotografou personalidades e
objetos.
Por suas fotos de ilustres personagens, Zingg, um jovem de 75
anos, tornou-se também ilustre.
Na maioria das fotos é a fama de
cada um que empresta uma certa
aura às suas imagens.
Nessa mostra vemos Ataulfo Alves em um botequim atrás da estação Central do Brasil, João Gilberto e Astrud, num raro retrato no
estúdio de Zingg em Nova York,
Rita Lee e os Mutantes em uma
imagem surreal, um jovem Oscar
Niemeyer em sua prancheta durante a construção de Brasília e um
belíssimo nu de Leila Diniz, um dia
antes dela dar à luz.
Quando fotografa objetos e arquitetura, Zingg parece ser capaz
de olhar para um ponto excepcional de uma cidade ou vila e perceber seu aspecto saliente e o complexo entrelaçamento das forças
que deram forma a ele.
Zingg tentou fazer arte. Ele mesmo seria o primeiro a apontar: as
fotos refletem na presença de forças significativas de um ponto em
particular, um tempo histórico.
Elas não levam o espectador a
uma conclusão pré-estabelecida
que não possa estar sujeita a mudanças.
É o material exato de um Brasil
distante e esquecido que foi construído nas lentes e nos olhos de
Zingg. Em suas fotos de rua, não
visa o momento, trágico ou dramático que seja. Ele parece estar
atrás de algo mais, um lugar comum que reflita o tempo real das
pessoas que povoam o seu mundo
brasileiro.
Com a nova liberdade providenciada pelo desenvolvimento de filmes mais rápidos e menores e câmeras de alta tecnologia, ele captou momentos espontâneos de
pessoas comuns durante o carnaval, o olhar alucinado de um coveiro baiano, o redemoinho verde e
rosa da mangueira e a garota solitária em uma confusão de confetes
após o baile.
Segundo Susan Sontag, "...essencialmente a câmera faz de todo
mundo um turista na realidade
dos outros, e eventualmente, na
sua própria realidade, também".
É difícil saber com certeza se
Zingg registrou o Brasil real do seu
tempo ou o inventou.
As fotos do Brasil deste fotógrafo
gringo tem sido publicadas tanto
na imprensa como em livros que
viraram parte de uma mitologia da
história de um passado recente.
De qualquer forma o Brasil das
imagens de Zingg já faz parte de
nosso arquivo visual.
Este texto de
Matinas Suzuki Jr., diretor editorial-adjunto da Abril S/A, está no catálogo da exposição de David Drew Zingg.
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