São Paulo, Terça-feira, 18 de Maio de 1999
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Mostra apresenta intimidade com o país

MATINAS SUZUKI JR.
As fotografias dessa exibição são fragmentos de uma história parcialmente completa de uma nação chamada Brasil e de seus personagens, principalmente da área artístico-cultural, vista através das lentes de um homem que mantém uma relação de intimidade com o país e seu povo há 40 anos.
As imagens, em sua maioria, se concentram na metade dos anos 60 e 70, mas algumas delas chegam em tempos mais recentes.
Nas suas andanças pelo Brasil, Zingg fotografou personalidades e objetos.
Por suas fotos de ilustres personagens, Zingg, um jovem de 75 anos, tornou-se também ilustre.
Na maioria das fotos é a fama de cada um que empresta uma certa aura às suas imagens.
Nessa mostra vemos Ataulfo Alves em um botequim atrás da estação Central do Brasil, João Gilberto e Astrud, num raro retrato no estúdio de Zingg em Nova York, Rita Lee e os Mutantes em uma imagem surreal, um jovem Oscar Niemeyer em sua prancheta durante a construção de Brasília e um belíssimo nu de Leila Diniz, um dia antes dela dar à luz.
Quando fotografa objetos e arquitetura, Zingg parece ser capaz de olhar para um ponto excepcional de uma cidade ou vila e perceber seu aspecto saliente e o complexo entrelaçamento das forças que deram forma a ele.
Zingg tentou fazer arte. Ele mesmo seria o primeiro a apontar: as fotos refletem na presença de forças significativas de um ponto em particular, um tempo histórico.
Elas não levam o espectador a uma conclusão pré-estabelecida que não possa estar sujeita a mudanças.
É o material exato de um Brasil distante e esquecido que foi construído nas lentes e nos olhos de Zingg. Em suas fotos de rua, não visa o momento, trágico ou dramático que seja. Ele parece estar atrás de algo mais, um lugar comum que reflita o tempo real das pessoas que povoam o seu mundo brasileiro.
Com a nova liberdade providenciada pelo desenvolvimento de filmes mais rápidos e menores e câmeras de alta tecnologia, ele captou momentos espontâneos de pessoas comuns durante o carnaval, o olhar alucinado de um coveiro baiano, o redemoinho verde e rosa da mangueira e a garota solitária em uma confusão de confetes após o baile.
Segundo Susan Sontag, "...essencialmente a câmera faz de todo mundo um turista na realidade dos outros, e eventualmente, na sua própria realidade, também".
É difícil saber com certeza se Zingg registrou o Brasil real do seu tempo ou o inventou.
As fotos do Brasil deste fotógrafo gringo tem sido publicadas tanto na imprensa como em livros que viraram parte de uma mitologia da história de um passado recente.
De qualquer forma o Brasil das imagens de Zingg já faz parte de nosso arquivo visual.


Este texto de Matinas Suzuki Jr., diretor editorial-adjunto da Abril S/A, está no catálogo da exposição de David Drew Zingg.


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