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CANNES Cineasta mostra a relação conturbada e frutífera com seu ator favorito no único título de não-ficção da programação oficial do festival
Herzog acerta as contas com Klaus Kinski
AMIR LABAKI
em Cannes
Werner Herzog lançou em Cannes no último fim-de-semana, fora
de competição, seu novo documentário, ""Meu Inimigo Íntimo".
É o único título de não-ficção do
programa oficial. Não surpreende
que trate do próprio cinema.
""Meu Inimigo Íntimo" reconstitui a conturbada e frutífera relação
entre o diretor alemão e o ator austríaco Klaus Kinski, morto em
1991.
O legado visível da colaboração
são cinco filmes rodados entre
1972 e 1987: "Aguirre, a Cólera dos
Deuses", "Nosferatu", "Woyzeck",
"Fitzcarraldo" e "Cobra Verde".
Herzog nos oferece agora sua versão dos bastidores de seu trabalho
com Kinski.
O documentário estrutura-se sobretudo a partir de um longo depoimento do próprio Herzog, intercalado com cenas dos filmes e
de registros das filmagens, alguns
poucos inéditos.
São entrevistados apenas três dos
parceiros de Kinski diante das câmeras: Claudia Cardinale ("Fitzcarraldo"), Eva Mattes ("Woyzeck") e um extra peruano
("Aguirre").
As duas atrizes, explica Herzog,
"foram escolhidas apenas por falarem de Klaus com muito afeto". O
figurante, contudo, exibe na testa a
marca de mais um instante de
agressividade descontrolada de
Kinski. O próprio Herzog não economiza anedotas na mesma linha.
A primeira das histórias precede
muito a parceria profissional. Herzog abre o filme visitando o casarão em Munique onde, nos anos
50, funcionava a pensão onde morava com a família e logo abrigaria
também a Kinski. O garoto Werner contava 13 anos. A carreira de
Klaus no teatro já engatinhava.
"Certa vez ele se fechou no banheiro por 48 horas. Chamamos a
polícia, e ele continuou lá. Quando
saiu, descobrimos que destruíra
tudo", diverte-se Herzog contando
ao casal careta que o recepciona no
velho lar.
Mais de uma década depois, Herzog enviaria a Kinski o roteiro de
"Aguirre". Às 3h do dia seguinte, o
telefone toca para um longo e confuso sim. A produção seria a crônica de ataques -prontamente respondidos por Herzog.
"Ele não era egocêntrico", diz o
cineasta. "Era egomaníaco." Mas
logo assume seu quinhão: "Era a
perfeita combinação entre dois
loucos".
Essa eletricidade nutriu o melhor
do cinema ficcional de Herzog.
"Meu Inimigo Íntimo" reconhece
a dívida num fecho extraordinário.
Um encantador Kinski doma uma
borboleta em plena selva. É mais
um grande momento que Herzog
deve a Kinski -e vice-versa.
O crítico
Amir Labaki está em Cannes a convite
da organização do festival.
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