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ARTES PLÁSTICAS
Beth Moysés discute o feminino
FERNANDO OLIVA
da Redação
O feminino que Beth Moysés
traz hoje para a galeria Thomas
Cohn vem despido de delicadeza e
resume o lado cruel de um romantismo corroído pelo tempo.
A matéria-prima que elegeu, os
vestidos de noiva, símbolo mítico
de valores ideais para a mulher,
compõe dez objetos escultóricos e
uma instalação.
Os vestidos são velhos conhecidos de Beth, que reutiliza os objetos desde 94, e são cedidos por
amigas da artista, que optaram
por se desfazer ou emprestar outro sentido a um objeto pessoal
que possui forte carga emotiva.
Na instalação, forram o chão do
vão livre da galeria, criando um
espaço para a memória pública de
muitas desilusões e fracassos do
passado. Descalço, o público pode
andar sobre eles.
Nenhum dos vestidos que compõem a instalação sofreu algum tipo de transformação -não foram
nem lavados, mostram-se ao público da maneira como foram entregues pelas noivas.
O tempo passou para os vestidos
e para quem um dia os ocupou.
Memória de épocas perdidas, de
um ritual de passagem que teve
seu significado corrompido pelo
tempo, os tecidos são destrinchados por Beth e reutilizados para
construir seus objetos-esculturas.
O estranhamento causado pelas
peças pode estar no embate entre a
delicadeza dos bordados revestindo objetos de outras categorias
-como a luva de boxe ("Luta")
ou a roda de bingo ("Jogo").
A luva, decorada com bordados
e falsas pérolas, estufada com
véus, reúne delicadeza e agressividade, embate recorrente no trabalho de Beth Moysés.
As obras não apontam saída
possível, remetem a um passado
que, apesar de ter deixado suas
lembranças palpáveis, foi definitivamente enterrado. Não sobra espaço para a nostalgia, e a lembrança é amarga. Nesse sentido, são de
uma crueldade rara.
Corpo
Os vestidos não são apenas metáfora de uma feminilidade perdida, mas também uma extensão do
corpo -ou, simbolicamente, o
próprio corpo.
O corpo é a base da obra da fotógrafa Marta María Pérez Bravo,
que também expõe na mesma galeria a partir de hoje.
A artista cubana, uma das mais
importantes fotógrafas contemporâneas de seu país, simula ícones religiosos usando o próprio
corpo como matéria-prima.
Os retratos de Marta fazem a ligação entre a atuação individual
da artista, sua auto-representação,
e a cultura popular cubana, sua
iconografia religiosa e mitológica.
Mostra: Beth Moysés e Marta María Pérez
Bravo
Onde: galeria Thomas Cohn (av. Europa,
641, tel. 011/883-3355)
Vernissage: hoje, às 20h
Quando: seg a sex, 11h/19h; sáb, 11h/14h
Quanto: entrada franca
Preço das obras: R$ 2.500 a R$ 8.000
(Moysés); R$ 1.000 a R$ 1.200 (Bravo)
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