São Paulo, Sexta-feira, 18 de Junho de 1999
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Diretor já lançou outro filme e nova peça

da Equipe de Articulistas
David Mamet já lançou outro filme e uma nova peça depois da estréia de "A Trapaça" há um ano e meio nos EUA. Ambos exploram as contenções e convenções da Inglaterra vitoriana.
Parece uma ruptura e tanto. O universo até aqui tido como tipicamente mametiano é o do vale-tudo do capitalismo avançado. Suas tramas, nas telas até mais do que nos palcos, avançam em sucessões de reviravoltas, como no ritmo de uma noitada de pôquer. Os diálogos são tensos, sintéticos, acelerados, ao limite da ambiguidade.
Mamet exercita-se agora nas artes do melodrama vitoriano à moda de Oscar Wilde ("A Importância de Ser Prudente"). As regras sociais exibiam então inédito rigor. As boas maneiras ainda imperavam, exigindo compostura nos modos e limpidez na linguagem.
"Boston Marriage" (Casamento de Boston), a peça, e "O Cadete" ("The Winslow Boy"), o filme, parecem mostrar que o salto não é tão grande.
O próprio Mamet nega o radicalismo da ruptura: "Estou sempre procurando um herói". A linha de continuidade, porém, parece mais complexa.
Na América de hoje ou na Inglaterra da virada do século, seus personagens enfrentam cirandas de fraudes e simulações, aqui vítimas, ali manipuladores, não raro ambos ao mesmo tempo.
Na nova peça, o centro da trama é o salão do sobrado em que moram a aristocrática Anna (Felicity Huffman) e sua jovem protegida, Claire (Rebecca Pidgeon). "Boston marriage" é um casal lésbico em gíria antiga. Tudo gira, com muita espirituosidade, em torno de perdas e conquistas, homo e heterossexuais.
Em "O Cadete", acompanha-se o drama fundamentalmente de dentro de um escritório. Baseado na peça homônima de Terence Rattigan, por sua vez extraída de um episódio real ocorrido no início deste século, o filme reconstitui os dois anos de luta de uma família da alta burguesia para limpar nos tribunais o nome de seu caçula, expulso da escola naval sob a acusação de roubo e falsificação.
A luta é pela honra -nada mais. Mamet filma com visível nostalgia um combate baseado em ideal assim tão nobre.
(AMIR LABAKI)


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