São Paulo, Sexta-feira, 18 de Junho de 1999
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CINEMA
Bogart e Hepburn são os mitos do século

da Equipe de Articulistas


Corra e alugue o vídeo "Uma Aventura na África" (1951) -é o único filme protagonizado por Humphrey Bogart e Katharine Hepburn, eleitos o maior mito masculino e feminino de Hollywood, em uma pesquisa polêmica do American Film Institute (AFI).
A escolha deles exala um saudável ar de contemporaneidade. Bogart representa um herói americano mais cínico, solitário e sombrio, como o Rick, de "Casablanca" (1940). Já Hepburn, 91, é o símbolo maior da "mulher absoluta", agressiva e liberada ("Levada da Breca", "Núpcia de Escândalo"). Na segunda colocação, Cary Grant e Bette Davis seguem modelos similares, embora Grant seja mais leve e elegante, e Davis, mais decidida que Hepburn.
A escolha dos 50 maiores "mitos do cinema americano" foi feita entre 1.800 personalidades americanas, a partir de critérios bastante específicos.
Para ser elegível como "mito", o ator ou atriz deveria ter iniciado sua carreira em filmes antes de 1951 ou, no caso de intérpretes já mortos, ter produzido uma filmografia expressiva, mesmo que iniciada depois de 1950. Cinco critérios deveriam ser considerados pelo painel de jurados: carisma, técnica e versatilidade, influência, popularidade e contexto histórico.
O marco temporal praticamente excluiu da pesquisa astros da Hollywood pós-derrocada do sistema de estúdios. Marlon Brando e James Dean puderam ser escolhidos, mas Jack Lemmon, Paul Newman, Clint Eastwood, Jack Nicholson e Meryl Streep, entre outros, ficaram "inelegíveis".
Apenas nove "mitos", quatro homens e cinco mulheres, ainda estão vivos. São Laurel Bacall, Marlon Brando, Kirk Douglas, Katharine Hepburn, Sophia Loren, Gregory Peck, Sidney Poitier (o único negro), Elizabeth Taylor e a ex-estrela mirim Shirley Temple.
A restrição pós-1951 foi a forma encontrada pelo AFI para evitar uma nova carga de críticas avassaladoras como a recebida pela lista dos cem filmes clássicos americanos que revelou há um ano. Naquele levantamento, liderado por "Cidadão Kane" (1941), a presença da era clássica era significativa (1930-50), mas metade dos escolhidos havia sido produzida depois dos anos 50.
Assim, a disputa restringiu-se agora a estrelas da era muda e astros da Hollywood dos grandes estúdios. Para variar, o cinema silencioso levou a pior. "É mais uma prova da falta de informação cinematográfica", metralhou um dos mais célebres críticos americanos, Leonard Maltin, para em seguida reconhecer ser difícil excluir algum nome da relação anunciada.
Charles Chaplin, Greta Garbo, Lillian Gish, Buster Keaton e Mary Pickford emplacaram entre os 50. Mas onde estão o maior ídolo romântico, Rudolph Valentino, o pioneiro rei do cinema de aventuras, Douglas Fairbanks, cômicos da estatura de Stan Laurel & Oliver Hardy e Harold Lloyd e a "garota do it", Claire Bow?
A exigência de versatilidade acabou riscando da lista grandes nomes mais vinculados a gêneros específicos, como o faroeste (Tom Mix, Will Rogers), o horror (Lon Chaney, Boris Karloff, Bela Lugosi), a aventura (Errol Flynn, Charlton Heston) e mesmo o musical (Bing Crosby, Elvis Presley).
O prêmio máximo da Academia, aliás, tem mais uma vez sua representatividade abalada por uma lista da AFI. Onze dos atores e 13 das atrizes escolhidas jamais levaram o Oscar de melhores intérpretes -Oscar especial à parte.
(AMIR LABAKI)


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