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LIVROS/LANÇAMENTOS
"UM ASSASSINO PARA O PAPA"
Autor foi repórter do "The New York Times"
Obra de Tad Szulc romanceia
conspiração no Vaticano
RODRIGO UCHÔA
COORDENADOR DE ARTIGOS E EVENTOS
As velhas teorias de conspiração pipocam sempre que
ocorrem eventos da magnitude
do atentado ao papa João Paulo
2º, em maio de 1981. Para alguns,
certamente o atentado foi resultado de uma conspiração comunista envolvendo a polícia secreta da
Bulgária e de Moscou; outros estão certos de que foi um complô
de fundamentalistas islâmicos.
Para Tad Szulc, velho correspondente do "The New York Times", o caso poderia mesmo ser
tratado como um ato de fundamentalistas, mas, surpreendentemente, de fundamentalistas da
própria Igreja Católica, contrários
à modernização da instituição.
Essa é a tônica de "Um Assassino para o Papa". Szulc dá um tratamento de ficção à sua teoria, segundo ele mesmo para assegurar
o anonimato de suas fontes no
Vaticano. O papa polonês é então
substituído por Gregório 17, um
francês, devoto de Nossa Senhora
de Fátima, que teve ligações com a
Resistência durante a Segunda
Guerra Mundial (1939-1945).
A história se desenrola através
das investigações de um padre jesuíta norte-americano que até já
tinha sido da CIA, Tim Savage, e
de sua assistente, a irmã Ângela.
Os outros personagens do Vaticano fazem referência mais direta
aos envolvidos na história real,
como ao turco Ali Agca, que foi o
autor material dos tiros que quase
mataram João Paulo 2º, e a Joseph
Ratzinger, o todo-poderoso cardeal alemão, dirigente da Congregação para a Doutrina da Fé (que
representa a ortodoxia católica).
Não deixa de ser engraçado que
um jesuíta se meta a James Bond,
tendo aparecido até aquela tensão
sexual entre ele e sua assistente
-não é exatamente um tipo de
relacionamento aprovado pela
igreja. Mas os elementos do romance de espionagem estão lá:
belas cidades, como Paris e Istambul; os bons e os maus; o herói numa crise de identidade. Não deve
decepcionar os fãs do gênero.
Há partes interessantes sobre a
história da Igreja Católica, o que
pode ser considerado um diferencial em relação aos demais romances que apenas abusam dos
batidos clichês de 007.
Mas o grande diferencial é
Szulc, morto em maio, aos 74
anos, depois de uma longa luta
contra o câncer. Correspondente
internacional do "The New York
Times" de 1953 a 1972, o jornalista
polonês esteve presente em algumas das principais investigações
do periódico e fez boas biografias
de personagens importantes, como a biografia do próprio papa
João Paulo 2º e a de Fidel Castro.
Educado na Suíça e no Brasil
-fez faculdade no Rio de Janeiro
durante a Segunda Guerra, antes
de emigrar para os EUA-, ele foi
o primeiro jornalista a mandar
notícias do golpe venezuelano de
1959, quando o ditador Marco Pérez Jiménez foi derrubado. Ele viu
"in loco" a Primavera de Praga e o
fim do movimento, com a invasão
da Tchecoslováquia, em 1968.
O homem certo no lugar certo,
mesmo quando dava azar, as coisas saíam bem para ele. Em 1955,
quando ocorreu o esperado golpe
peronista na Argentina, Szulc estava em Santiago, no Chile, cobrindo um encontro de pescadores. Impedido de voltar a Buenos
Aires, ele fez a cobertura toda a
partir do vizinho.
Como a censura na Argentina
impedia a saída de informações
dos correspondentes internacionais, foi o "exilado" Szulc quem
conseguiu se sobressair na cobertura, até conseguir entrar no país
clandestinamente.
Mas seu caso mais famoso foi
ter anunciado com exclusividade
na grande imprensa o complô da
CIA com cubanos exilados para
invadir a ilha de Fidel, em 1961, o
que acabou na conhecida invasão
da baía dos Porcos. Num daqueles lances de sorte, ele estava de
passagem por Miami quando
achou a trilha da história, publicada na primeira página do "The
New York Times" , poucas semanas antes da desastrada invasão.
"Se vocês tivessem publicado
mais sobre a operação, teriam me
evitado um desastre colossal",
mais tarde teria dito o então presidente, John Kennedy.
Um Assassino para o Papa
To Kill the Pope
Autor: Tad Szulc
Tradutor: Domingos Demasi
Editora: Record
Quanto: R$ 34 (412 págs.)
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