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CINEMA/CRÍTICA
"eXistenZ" é sublime e monstruoso
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
Quem estiver no Rio amanhã
terá a chance de viver uma experiência perturbadora: assistir a
"eXistenZ", de David Cronenberg, no Festival do Rio.
Um resumo possível: durante a
demonstração de seu novo game
de realidade virtual ("eXistenZ"),
a profeta dos games Allegra (Jennifer Jason Leigh) é baleada por
um fanático e foge com o segurança Ted Pikul (Jude Law).
Na fuga, Allegra convence/seduz/obriga Pikul a mergulhar
com ela em "eXistenZ". Para entrar no jogo, o rapaz deve primeiro instalar na própria espinha um
"bioport" -um orifício pelo qual
o game será conectado diretamente a seu sistema nervoso.
A partir daí, Allegra e Pikul entram e saem várias vezes do espaço virtual de "eXistenZ", mergulhando num mundo cada vez
mais estranho (mas incomodamente real) e contracenando com
seres que eles nunca sabem se são
aliados ou inimigos.
Há armas feitas de ossos e restos
animais (as balas são dentes humanos), criam-se monstros anfíbios num cenário bucólico e, como nos piores pesadelos, as coisas
e seres mudam de sentido sem
aviso prévio.
Estamos num mundo governado pela simbiose entre o orgânico,
o mecânico e o humano -algo
que já foi definido como a "condição Cronenberg".
A idéia de que, para adentrar
outro estado de percepção (ou
outra dimensão vital), é preciso
deixar-se penetrar, abrindo o próprio corpo, evoca imediatamente
o sexo e as drogas pesadas.
Mas David Cronenberg vai
além: o sublime e o monstruoso
são as duas faces da mesma utopia do homem de superar sua triste e finita condição.
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