São Paulo, Sábado, 18 de Setembro de 1999
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CINEMA/CRÍTICA

"eXistenZ" é sublime e monstruoso

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Quem estiver no Rio amanhã terá a chance de viver uma experiência perturbadora: assistir a "eXistenZ", de David Cronenberg, no Festival do Rio.
Um resumo possível: durante a demonstração de seu novo game de realidade virtual ("eXistenZ"), a profeta dos games Allegra (Jennifer Jason Leigh) é baleada por um fanático e foge com o segurança Ted Pikul (Jude Law).
Na fuga, Allegra convence/seduz/obriga Pikul a mergulhar com ela em "eXistenZ". Para entrar no jogo, o rapaz deve primeiro instalar na própria espinha um "bioport" -um orifício pelo qual o game será conectado diretamente a seu sistema nervoso.
A partir daí, Allegra e Pikul entram e saem várias vezes do espaço virtual de "eXistenZ", mergulhando num mundo cada vez mais estranho (mas incomodamente real) e contracenando com seres que eles nunca sabem se são aliados ou inimigos.
Há armas feitas de ossos e restos animais (as balas são dentes humanos), criam-se monstros anfíbios num cenário bucólico e, como nos piores pesadelos, as coisas e seres mudam de sentido sem aviso prévio.
Estamos num mundo governado pela simbiose entre o orgânico, o mecânico e o humano -algo que já foi definido como a "condição Cronenberg".
A idéia de que, para adentrar outro estado de percepção (ou outra dimensão vital), é preciso deixar-se penetrar, abrindo o próprio corpo, evoca imediatamente o sexo e as drogas pesadas.
Mas David Cronenberg vai além: o sublime e o monstruoso são as duas faces da mesma utopia do homem de superar sua triste e finita condição.


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