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CINEMA
Ayrton Senna de Banderas será "gladiador"
AMIR LABAKI
da Equipe de Articulistas
Antonio Banderas parece talhado para interpretar Ayrton Senna
no cinema. Pessoalmente é magro, forte e de estatura mediana,
resultando muito menos imponente do que sua figura nas telas.
Banderas conversou com a Folha, e com representantes de seis
jornais europeus, numa suíte do
Hotel Excelsior do Lido de Veneza. O encontro se deu no último
dia do festival em que lançara
"Crazy in Alabama" (Louca no
Alabama), sua estréia na direção.
É uma divertida comédia policial
passada no sul dos EUA no auge
dos movimentos em defesa dos
direitos humanos nos anos 60.
Melanie Griffith, mulher e sócia
de Banderas, é a protagonista.
Catapultado das comédias pós-modernas de Almodóvar ao estrelato em filmes de ação hollywoodianos, Banderas participou
como ator de 52 produções antes
de passar para a cadeira de diretor. Veio para ficar, alternando-se
à frente e atrás das câmeras.
"Crazy" teve excelente acolhida
de público e crítica em Veneza.
De camiseta verde e calça preta
de brim, Banderas esbanjou articulação durante o encontro. Chegou quebrando o gelo perguntando se poderia fumar. "Bom estar
na Europa", disse sorrindo após a
primeira tragada.
Falou sobre o impulso para passar à direção, a escolha de "Crazy"
e seus planos para o filme sobre
Senna. Leia abaixo uma síntese da
entrevista.
Pergunta - Para sua estréia como diretor, você e Melanie estavam procurando um projeto para fazer juntos?
Antonio Banderas - Não. Explico o processo. Há três anos fundamos juntos a Green Moon Productions, visando impulsionar
projetos muito mais alternativos
do que os grandes filmes hollywoodianos que nos vinham sendo oferecidos. Mais próximos daqueles que fiz durante anos na Espanha. Não por odiarmos Hollywood, mas sim para equilibrar
um pouco e fazermos filmes mais
próximos de nossos próprios corações. No processo, recebemos
vários roteiros, de estudantes,
adaptações de livro etc. Nessas
circunstâncias, recebi o roteiro
para "Crazy in Alabama".
Pergunta - O que o atraiu?
Banderas - Me apaixonei por
ele por duas razões. Primeiro, é
uma reflexão sobre liberdade e
justiça, vida e morte, segundo, é
apresentado de uma forma diversa da que já tinha lido. É original,
um pouco excêntrico, tratando
com um toque de conto de fadas
de assuntos muito sérios. Tive que
mentir para o estúdio. Outro dia,
em Londres, Alan Parker me perguntou: "Como você conseguiu
fazer um filme tão politicamente
incorreto dentro de um estúdio?"
Vendi para eles que estava fazendo "Quem Vai Ficar com Mary?
Parte 2".
Pergunta - O que aconteceu
quando o assistiram?
Banderas - Adoraram o filme,
mas disseram que temos que tirar
os altos e baixos, eu disse OK, para
não mexermos nele até termos a
reação do público. Na primeira
exibição, o filme teve 73% de recomendação absoluta. E o estúdio
não tinha mais um instrumento
para tirar o filme de mim. Eu tinha ainda a possibilidade de cortar entre 10 e 15 minutos, para torná-lo mais ágil, e os tirei. A aprovação subiu para 88%.
Pergunta - Você sempre estudou os diretores com os quais
trabalhava sonhando em tornar-se também diretor?
Banderas - Não. A vontade foi
crescendo lentamente em mim,
há cinco, seis anos. O que empurra os atores para atrás das câmeras, depois de contar tantas histórias dos outros, é dividir com o
público suas opiniões. É por isso
que acontece tanto, atualmente e
no passado. Charles Laughton fez
um filme, Paul Newman e Marlon
Brando também. E atores quando
passam à direção não fazem grandes filmes populares. São muito
mais experimentais, como
Johnny Depp, Gary Oldman e
Sean Penn, recentemente.
Pergunta - Você continha vinculado ao projeto de filme sobre
Ayrton Senna?
Banderas - É outra produção de
Green Moon. Estou muito interessado em fazer o retrato de um
campeão. Um gladiador moderno. O que é ser o melhor. Ayrton
Senna foi o personagem que escolhi. Não é um filme sobre corridas
de automóveis. A história inteira
se passa basicamente num quarto
de hotel onde este personagem está atormentado. Está num mau
momento de sua vida e alguém
prevê que ele vai morrer. Ele volta
ao passado, em "flashbacks". Fomos a SP e conversamos com o
pai e a família, e conseguimos os
direitos. Estamos avançando aos
poucos, pois é um projeto muito
caro. Apesar de não ser um filme
de corridas, temos que encenar algumas.
Pergunta - Você pretende
atuar e dirigir?
Banderas - Devo fazer Ayrton e
Michael Mann ("O Último dos
Moicanos") dirigir.
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