São Paulo, Sábado, 18 de Setembro de 1999
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CINEMA

Ayrton Senna de Banderas será "gladiador"

AMIR LABAKI
da Equipe de Articulistas



Antonio Banderas parece talhado para interpretar Ayrton Senna no cinema. Pessoalmente é magro, forte e de estatura mediana, resultando muito menos imponente do que sua figura nas telas.
Banderas conversou com a Folha, e com representantes de seis jornais europeus, numa suíte do Hotel Excelsior do Lido de Veneza. O encontro se deu no último dia do festival em que lançara "Crazy in Alabama" (Louca no Alabama), sua estréia na direção. É uma divertida comédia policial passada no sul dos EUA no auge dos movimentos em defesa dos direitos humanos nos anos 60. Melanie Griffith, mulher e sócia de Banderas, é a protagonista.
Catapultado das comédias pós-modernas de Almodóvar ao estrelato em filmes de ação hollywoodianos, Banderas participou como ator de 52 produções antes de passar para a cadeira de diretor. Veio para ficar, alternando-se à frente e atrás das câmeras. "Crazy" teve excelente acolhida de público e crítica em Veneza.
De camiseta verde e calça preta de brim, Banderas esbanjou articulação durante o encontro. Chegou quebrando o gelo perguntando se poderia fumar. "Bom estar na Europa", disse sorrindo após a primeira tragada.
Falou sobre o impulso para passar à direção, a escolha de "Crazy" e seus planos para o filme sobre Senna. Leia abaixo uma síntese da entrevista.

Pergunta - Para sua estréia como diretor, você e Melanie estavam procurando um projeto para fazer juntos?
Antonio Banderas -
Não. Explico o processo. Há três anos fundamos juntos a Green Moon Productions, visando impulsionar projetos muito mais alternativos do que os grandes filmes hollywoodianos que nos vinham sendo oferecidos. Mais próximos daqueles que fiz durante anos na Espanha. Não por odiarmos Hollywood, mas sim para equilibrar um pouco e fazermos filmes mais próximos de nossos próprios corações. No processo, recebemos vários roteiros, de estudantes, adaptações de livro etc. Nessas circunstâncias, recebi o roteiro para "Crazy in Alabama".

Pergunta - O que o atraiu?
Banderas -
Me apaixonei por ele por duas razões. Primeiro, é uma reflexão sobre liberdade e justiça, vida e morte, segundo, é apresentado de uma forma diversa da que já tinha lido. É original, um pouco excêntrico, tratando com um toque de conto de fadas de assuntos muito sérios. Tive que mentir para o estúdio. Outro dia, em Londres, Alan Parker me perguntou: "Como você conseguiu fazer um filme tão politicamente incorreto dentro de um estúdio?" Vendi para eles que estava fazendo "Quem Vai Ficar com Mary? Parte 2".

Pergunta - O que aconteceu quando o assistiram?
Banderas -
Adoraram o filme, mas disseram que temos que tirar os altos e baixos, eu disse OK, para não mexermos nele até termos a reação do público. Na primeira exibição, o filme teve 73% de recomendação absoluta. E o estúdio não tinha mais um instrumento para tirar o filme de mim. Eu tinha ainda a possibilidade de cortar entre 10 e 15 minutos, para torná-lo mais ágil, e os tirei. A aprovação subiu para 88%.

Pergunta - Você sempre estudou os diretores com os quais trabalhava sonhando em tornar-se também diretor?
Banderas -
Não. A vontade foi crescendo lentamente em mim, há cinco, seis anos. O que empurra os atores para atrás das câmeras, depois de contar tantas histórias dos outros, é dividir com o público suas opiniões. É por isso que acontece tanto, atualmente e no passado. Charles Laughton fez um filme, Paul Newman e Marlon Brando também. E atores quando passam à direção não fazem grandes filmes populares. São muito mais experimentais, como Johnny Depp, Gary Oldman e Sean Penn, recentemente.

Pergunta - Você continha vinculado ao projeto de filme sobre Ayrton Senna?
Banderas -
É outra produção de Green Moon. Estou muito interessado em fazer o retrato de um campeão. Um gladiador moderno. O que é ser o melhor. Ayrton Senna foi o personagem que escolhi. Não é um filme sobre corridas de automóveis. A história inteira se passa basicamente num quarto de hotel onde este personagem está atormentado. Está num mau momento de sua vida e alguém prevê que ele vai morrer. Ele volta ao passado, em "flashbacks". Fomos a SP e conversamos com o pai e a família, e conseguimos os direitos. Estamos avançando aos poucos, pois é um projeto muito caro. Apesar de não ser um filme de corridas, temos que encenar algumas.

Pergunta - Você pretende atuar e dirigir?
Banderas -
Devo fazer Ayrton e Michael Mann ("O Último dos Moicanos") dirigir.


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