São Paulo, sábado, 18 de setembro de 2004

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LITERATURA

"Bandidos e Mocinhas", segundo livro policial do autor, narra trama a partir do envenenamento de uma atriz

Nelson Motta compõe "pulp fiction" carioca

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Na adolescência, Nelson Motta lia muitas histórias do detetive Shell Scott, criação de Richard S. Prather. Os livros, baratos, eram vendidos nas bancas. Quando começou a escrever "Bandidos e Mocinhas", seu novo romance, o jornalista, compositor e produtor musical se lembrou das aventuras do grisalho detetive.
"Era uma grande paixão. Eu lia clássicos, autores brasileiros, mas Shell Scott era um sundae, um prazer. Eu queria dar às pessoas esse tipo de satisfação com meu livro", diz ele, que completa 60 anos em outubro.
Assim como fazia Prather, Motta criou uma "pulp fiction", um livro simples e leve. "É uma "pulp fiction" carioca", classifica o autor. Toda a trama se passa no Rio, entre favelas e mansões, diferentemente de seu anterior, o baiano "O Canto da Sereia". Mas "Bandidos e Mocinhas" só existe por causa de "O Canto da Sereia".
O bom resultado do romance de 2002 (20 mil exemplares vendidos) deu confiança a Motta para escrever um segundo. Fugiu do caminho fácil de produzir "novas aventuras de Augustão" (protagonista do livro anterior), mas não do gênero policial.
"Gostei muito da experiência da ficção, me deu muita alegria. E como eu peguei a manha do policial, resolvi seguir nessa linha", conta ele, ressaltando no livro as "várias histórias de amor. Estranhas, mas de amor".
Segundo Motta, a trama demorou a surgir, mas, quando apareceu, veio com vontade, tanto que o livro só levou três meses para ser concluído. Logo no prólogo acontece o crime: uma atriz morre no palco envenenada. No restante do romance, desenrola-se a investigação e a narrativa da vida de Lana Leoni e de pessoas próximas.
"Dizem que a gente só escreve sobre o que conhece. Como fui casado dez anos com Marília [Pêra], conheço esse mundo de teatro. E, como personagens não nascem do nada, é claro que eles são formados por pedaços de pessoas que conheci. E, também, por outros personagens de ficção."
Ele ressalta, no entanto, que nenhum dos tipos que criou é diretamente inspirado em alguma pessoa real. Lana Leoni é uma atriz envolvida com drogas e com um currículo repleto de fracassos. Ela morre no espetáculo que caminha para ser seu grande sucesso: "Carne Viva", uma peça muito próxima da pornografia.
O sexo protagoniza a vida de Lana e de outros personagens do livro, entre eles George Baker, o segundo marido da atriz. Rico, ele patrocina os devaneios teatrais da mulher, mas se irrita com "Carne Viva". Embora se excitasse vendo as fitas de Lana transando com outros homens, a peça lhe atiça o ciúme, provoca a separação e faz dele um dos principais suspeitos do assassinato.
Quem vai interrogar Baker e todos os envolvidos no caso é Marlene Machado, uma bela e inteligente delegada de 35 anos. As mulheres são, nitidamente, mais fortes do que os homens em "Bandidos e Mocinhas".
"Eu tenho fascínio por personagens femininos, talvez porque sempre tenha vivido num mundo de mulheres", avalia Motta, que tem duas irmãs, três filhas, uma neta (e um neto), mulher e ex-mulheres, além de uma mãe forte, que deu palpites no livro (para reduzir o número de cenas de sexo, por exemplo) e foi quem mais o estimulou a ingressar na ficção.
Ao apresentar uma delegada bonita, um traficante apaixonado (Jura), outro cerebral (Dida) e uma atriz malsucedida (Lana), Motta procurou fugir de estereótipos e surpreender o leitor. Este ainda pode ser cativado pela leveza e despretensão da história.
É, também, uma história com potencial cinematográfico, repetindo "O Canto da Sereia", cujos direitos já foram comprados pela Conspiração Filmes. Motta só não faz planos ainda para um terceiro romance policial. "Pretendo escrever a biografia de um grande artista. E estou pensando em enfrentar o desafio de escrever para teatro. Acho que é o texto mais difícil de fazer."


BANDIDOS E MOCINHAS. Autor: Nelson Motta. Editora: Objetiva. Quanto: R$ 34,90 (256 págs.).


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