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LITERATURA
"Bandidos e Mocinhas", segundo livro policial do autor, narra trama a partir do envenenamento de uma atriz
Nelson Motta compõe "pulp fiction" carioca
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Na adolescência, Nelson Motta
lia muitas histórias do detetive
Shell Scott, criação de Richard S.
Prather. Os livros, baratos, eram
vendidos nas bancas. Quando começou a escrever "Bandidos e
Mocinhas", seu novo romance, o
jornalista, compositor e produtor
musical se lembrou das aventuras
do grisalho detetive.
"Era uma grande paixão. Eu lia
clássicos, autores brasileiros, mas
Shell Scott era um sundae, um
prazer. Eu queria dar às pessoas
esse tipo de satisfação com meu livro", diz ele, que completa 60
anos em outubro.
Assim como fazia Prather, Motta criou uma "pulp fiction", um livro simples e leve. "É uma "pulp
fiction" carioca", classifica o autor.
Toda a trama se passa no Rio, entre favelas e mansões, diferentemente de seu anterior, o baiano
"O Canto da Sereia". Mas "Bandidos e Mocinhas" só existe por
causa de "O Canto da Sereia".
O bom resultado do romance de
2002 (20 mil exemplares vendidos) deu confiança a Motta para
escrever um segundo. Fugiu do
caminho fácil de produzir "novas
aventuras de Augustão" (protagonista do livro anterior), mas
não do gênero policial.
"Gostei muito da experiência da
ficção, me deu muita alegria. E como eu peguei a manha do policial,
resolvi seguir nessa linha", conta
ele, ressaltando no livro as "várias
histórias de amor. Estranhas, mas
de amor".
Segundo Motta, a trama demorou a surgir, mas, quando apareceu, veio com vontade, tanto que
o livro só levou três meses para ser
concluído. Logo no prólogo acontece o crime: uma atriz morre no
palco envenenada. No restante do
romance, desenrola-se a investigação e a narrativa da vida de Lana Leoni e de pessoas próximas.
"Dizem que a gente só escreve
sobre o que conhece. Como fui
casado dez anos com Marília [Pêra], conheço esse mundo de teatro. E, como personagens não
nascem do nada, é claro que eles
são formados por pedaços de pessoas que conheci. E, também, por
outros personagens de ficção."
Ele ressalta, no entanto, que nenhum dos tipos que criou é diretamente inspirado em alguma
pessoa real. Lana Leoni é uma
atriz envolvida com drogas e com
um currículo repleto de fracassos.
Ela morre no espetáculo que caminha para ser seu grande sucesso: "Carne Viva", uma peça muito
próxima da pornografia.
O sexo protagoniza a vida de Lana e de outros personagens do livro, entre eles George Baker, o segundo marido da atriz. Rico, ele
patrocina os devaneios teatrais da
mulher, mas se irrita com "Carne
Viva". Embora se excitasse vendo
as fitas de Lana transando com
outros homens, a peça lhe atiça o
ciúme, provoca a separação e faz
dele um dos principais suspeitos
do assassinato.
Quem vai interrogar Baker e todos os envolvidos no caso é Marlene Machado, uma bela e inteligente delegada de 35 anos. As mulheres são, nitidamente, mais fortes do que os homens em "Bandidos e Mocinhas".
"Eu tenho fascínio por personagens femininos, talvez porque
sempre tenha vivido num mundo
de mulheres", avalia Motta, que
tem duas irmãs, três filhas, uma
neta (e um neto), mulher e ex-mulheres, além de uma mãe forte,
que deu palpites no livro (para reduzir o número de cenas de sexo,
por exemplo) e foi quem mais o
estimulou a ingressar na ficção.
Ao apresentar uma delegada
bonita, um traficante apaixonado
(Jura), outro cerebral (Dida) e
uma atriz malsucedida (Lana),
Motta procurou fugir de estereótipos e surpreender o leitor. Este
ainda pode ser cativado pela leveza e despretensão da história.
É, também, uma história com
potencial cinematográfico, repetindo "O Canto da Sereia", cujos
direitos já foram comprados pela
Conspiração Filmes. Motta só não
faz planos ainda para um terceiro
romance policial. "Pretendo escrever a biografia de um grande
artista. E estou pensando em enfrentar o desafio de escrever para
teatro. Acho que é o texto mais difícil de fazer."
BANDIDOS E MOCINHAS. Autor: Nelson
Motta. Editora: Objetiva. Quanto: R$
34,90 (256 págs.).
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