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26ª MOSTRA DE CINEMA DE SP
"O BANCO"
Filme reduz mistérios do mercado e dos humanos a psicologia barata
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Nas primeiras imagens, "O
Banco" já afirma sua filiação
hitchcockiana: os letreiros são
compostos à maneira de "Intriga
Internacional", aqui jogando com
as linhas retas e curvas de um gráfico matemático. A música, calcada nos filmes de Brian de Palma,
aponta na mesma direção.
Faz sentido, pois a trama deste
filme australiano gira em torno de
Jim Doyle, jovem matemático que
cria um sistema capaz de prever
com exatidão o sentido dos negócios nas Bolsas de Valores. Obviamente, o banco que detiver os direitos sobre esse sistema tem tudo
para fazer da economia mundial
(já controlada pelos bancos) uma
espécie de quintal.
O assunto diz respeito a qualquer pessoa, e o desenvolvimento
é animador, pois a suposição inicial leva a homens que se crêem
semideuses e, diante das perspectivas abertas pelo sistema de Doyle, farejam imediatamente um
"upgrade", isto é, a hipótese de se
tornarem deuses mesmo. Estamos num quadro de suspense
moderno e numa Austrália cuja
modernidade é bem filmada.
Infelizmente, um "subplot" microeconômico e dispersivo (casal
arruinado pelo banco) logo se insinua, como se não bastasse ao diretor-roteirista Robert Connolly
figurar a instituição bancária como perversa no atacado -é preciso que o seja também no varejo.
A partir daí, "O Banco" começa
a fazer água, o roteiro se detém
em aspectos cada vez mais previsíveis das coisas, derivando até as
famosas "motivações" (o que levou Jim Doyle a desenvolver seu
sistema etc.) e chegando a um final rastejante, digno de telefilme.
Aparentemente, o filme tem por
inspiração o caso do operador de
Bolsa que levou à bancarrota um
grande banco britânico. É uma
história interessante, que Connolly sugere e da qual, por qualquer, termina passando ao largo,
na medida em que reduz tanto o
mistério dos mercados globalizados como o dos seres humanos a
questões de psicologia barata.
O Banco
The Bank
Direção: Robert Connolly
Produção: Austrália/Itália, 2001
Idioma: inglês (legendas em português)
Quando: hoje, às 16h35, no Cinearte 1;
amanhã, às 20h40, no Cineclube DirecTV
3; e dia 24, às 13h55, no Cineclube
DirecTV 1
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