São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 2002

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26ª MOSTRA DE CINEMA DE SP

"O BANCO"

Filme reduz mistérios do mercado e dos humanos a psicologia barata

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Nas primeiras imagens, "O Banco" já afirma sua filiação hitchcockiana: os letreiros são compostos à maneira de "Intriga Internacional", aqui jogando com as linhas retas e curvas de um gráfico matemático. A música, calcada nos filmes de Brian de Palma, aponta na mesma direção.
Faz sentido, pois a trama deste filme australiano gira em torno de Jim Doyle, jovem matemático que cria um sistema capaz de prever com exatidão o sentido dos negócios nas Bolsas de Valores. Obviamente, o banco que detiver os direitos sobre esse sistema tem tudo para fazer da economia mundial (já controlada pelos bancos) uma espécie de quintal.
O assunto diz respeito a qualquer pessoa, e o desenvolvimento é animador, pois a suposição inicial leva a homens que se crêem semideuses e, diante das perspectivas abertas pelo sistema de Doyle, farejam imediatamente um "upgrade", isto é, a hipótese de se tornarem deuses mesmo. Estamos num quadro de suspense moderno e numa Austrália cuja modernidade é bem filmada.
Infelizmente, um "subplot" microeconômico e dispersivo (casal arruinado pelo banco) logo se insinua, como se não bastasse ao diretor-roteirista Robert Connolly figurar a instituição bancária como perversa no atacado -é preciso que o seja também no varejo.
A partir daí, "O Banco" começa a fazer água, o roteiro se detém em aspectos cada vez mais previsíveis das coisas, derivando até as famosas "motivações" (o que levou Jim Doyle a desenvolver seu sistema etc.) e chegando a um final rastejante, digno de telefilme.
Aparentemente, o filme tem por inspiração o caso do operador de Bolsa que levou à bancarrota um grande banco britânico. É uma história interessante, que Connolly sugere e da qual, por qualquer, termina passando ao largo, na medida em que reduz tanto o mistério dos mercados globalizados como o dos seres humanos a questões de psicologia barata.

O Banco
The Bank


  
Direção: Robert Connolly
Produção: Austrália/Itália, 2001
Idioma: inglês (legendas em português)
Quando: hoje, às 16h35, no Cinearte 1; amanhã, às 20h40, no Cineclube DirecTV 3; e dia 24, às 13h55, no Cineclube DirecTV 1




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