São Paulo, quinta-feira, 18 de outubro de 2007

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Mercedes Sosa volta a SP e nega aposentadoria

Cantora faz show único, esta noite, no Via Funchal

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os fãs de Mercedes Sosa que viram os anúncios nos jornais nas últimas semanas provavelmente levaram um susto. Diziam que o show que a cantora argentina faz nesta noite em São Paulo seria sua última apresentação por aqui. "De jeito nenhum", disse Sosa à Folha. "Ainda vou cantar na Europa e quero voltar ao Brasil muitas vezes."
A produtora Opinião, responsável pela turnê, e o Via Funchal, onde acontece o espetáculo, dizem que houve um problema de comunicação entre as duas partes. Para a primeira, o que havia sido levantado apenas como uma hipótese, teria sido entendido pela casa de shows como dado concreto.
Já o Via Funchal diz que a informação de que este seria o último concerto de Sosa veio já como certa no material enviado pela produtora. O fato é que o anúncio saiu assim, sem que a cantora fosse consultada.
Sosa tem 72 anos, sofre de diabetes e tem muita dificuldade para andar, mas a voz continua em excelente forma. Foi o que se pôde ouvir na mais recente apresentação que fez em São Paulo, em abril, no Credicard Hall, ao lado de uma então ofuscada Maria Rita.
O repertório desta noite será o de "Corazón Libre", CD que lançou em 2005 e traz canções novas e antigas do folclore argentino. Contará também com clássicos como "Gracias a la Vida" e "Volver a los 17" (ambos da chilena Violeta Parra).

Em português
Sosa não dá entrevistas convencionais. Ao ser perguntada sobre o set list do show, canta uma espécie de pot-pourri para a repórter do outro lado da linha. "O Ciúme" (Caetano Veloso) e "Insensatez" (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), então, fazem tremer a ligação. Ela complementa: "Adoro essas músicas. Elas não envelhecem nunca. Mas penso que os brasileiros não gostam muito quando eu as canto." Por que? "Acho que me conhecem mais como cantora latino-americana e tenho a sensação de que consideram estranho ouvir essas canções em português pela minha voz", diz. Ainda assim, ela recorda com carinho as parcerias que fez com Milton Nascimento e Raimundo Fagner ao longo de sua extensa carreira.
A música popular argentina tem tido um revival nos últimos tempos. A cumbia, por exemplo, gênero que andava sendo desprezado por ser ouvido recentemente apenas pelas classes menos favorecidas, voltou a ser hype na noite portenha, com o surgimento de festas apelidadas de "cumbia para intelectuales".
Sosa confirma uma nova onda de interesse. "O folclore sempre esteve na raiz da música popular argentina, mas acho que está sendo revigorado agora, pois estamos passando por um bom momento. Os argentinos recuperaram a auto-estima abalada pela crise de 2001."

Veia política
Militante ativa contra a ditadura militar nos anos 70 e 80 -quando se celebrizou como "a voz" da canção de protesto latino-americana- e peronista nos últimos tempos, Sosa apoiou Kirchner em seu primeiro mandato e agora quer ver Cristina, sua mulher, no poder. "O país melhorou, mas ainda há muito a ser feito. Quatro anos são muito pouco. São necessários oito para concluir o que estão fazendo. E Cristina é uma mulher cultíssima." A eleição acontece no dia 28.
Daqui, Sosa segue para apresentações em Quito, Montevidéu e Cidade do México, entre outros. Parar de cantar, como diz a publicidade do show, parece ser algo que está bem longe de sua programação.


MERCEDES SOSA
Quando:
hoje, às 21h30
Onde: Via Funchal (r. Funchal, 65, Vila Olímpia, 011/3188-4148)
Quanto: de R$ 60 a R$ 160


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