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Mercedes Sosa volta a SP e nega aposentadoria
Cantora faz show único, esta noite, no Via Funchal
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os fãs de Mercedes Sosa que
viram os anúncios nos jornais
nas últimas semanas provavelmente levaram um susto. Diziam que o show que a cantora
argentina faz nesta noite em
São Paulo seria sua última
apresentação por aqui. "De jeito nenhum", disse Sosa à Folha. "Ainda vou cantar na Europa e quero voltar ao Brasil
muitas vezes."
A produtora Opinião, responsável pela turnê, e o Via
Funchal, onde acontece o espetáculo, dizem que houve um
problema de comunicação entre as duas partes. Para a primeira, o que havia sido levantado apenas como uma hipótese,
teria sido entendido pela casa
de shows como dado concreto.
Já o Via Funchal diz que a informação de que este seria o último concerto de Sosa veio já
como certa no material enviado
pela produtora. O fato é que o
anúncio saiu assim, sem que a
cantora fosse consultada.
Sosa tem 72 anos, sofre de
diabetes e tem muita dificuldade para andar, mas a voz continua em excelente forma. Foi o
que se pôde ouvir na mais recente apresentação que fez em
São Paulo, em abril, no Credicard Hall, ao lado de uma então
ofuscada Maria Rita.
O repertório desta noite será
o de "Corazón Libre", CD que
lançou em 2005 e traz canções
novas e antigas do folclore argentino. Contará também com
clássicos como "Gracias a la Vida" e "Volver a los 17" (ambos
da chilena Violeta Parra).
Em português
Sosa não dá entrevistas convencionais. Ao ser perguntada
sobre o set list do show, canta
uma espécie de pot-pourri para
a repórter do outro lado da linha. "O Ciúme" (Caetano Veloso) e "Insensatez" (Tom Jobim
e Vinicius de Moraes), então,
fazem tremer a ligação. Ela
complementa: "Adoro essas
músicas. Elas não envelhecem
nunca. Mas penso que os brasileiros não gostam muito quando eu as canto." Por que? "Acho
que me conhecem mais como
cantora latino-americana e tenho a sensação de que consideram estranho ouvir essas canções em português pela minha
voz", diz. Ainda assim, ela recorda com carinho as parcerias
que fez com Milton Nascimento e Raimundo Fagner ao longo
de sua extensa carreira.
A música popular argentina
tem tido um revival nos últimos tempos. A cumbia, por
exemplo, gênero que andava
sendo desprezado por ser ouvido recentemente apenas pelas
classes menos favorecidas, voltou a ser hype na noite portenha, com o surgimento de festas apelidadas de "cumbia para
intelectuales".
Sosa confirma uma nova onda de interesse. "O folclore
sempre esteve na raiz da música popular argentina, mas acho
que está sendo revigorado agora, pois estamos passando por
um bom momento. Os argentinos recuperaram a auto-estima
abalada pela crise de 2001."
Veia política
Militante ativa contra a ditadura militar nos anos 70 e 80
-quando se celebrizou como "a
voz" da canção de protesto latino-americana- e peronista
nos últimos tempos, Sosa
apoiou Kirchner em seu primeiro mandato e agora quer
ver Cristina, sua mulher, no poder. "O país melhorou, mas ainda há muito a ser feito. Quatro
anos são muito pouco. São necessários oito para concluir o
que estão fazendo. E Cristina é
uma mulher cultíssima." A eleição acontece no dia 28.
Daqui, Sosa segue para apresentações em Quito, Montevidéu e Cidade do México, entre
outros. Parar de cantar, como
diz a publicidade do show, parece ser algo que está bem longe de sua programação.
MERCEDES SOSA
Quando: hoje, às 21h30
Onde: Via Funchal (r. Funchal, 65,
Vila Olímpia, 011/3188-4148)
Quanto: de R$ 60 a R$ 160
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