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Deus criou a noite e... Erika Palomino criou o "Babado Forte"
Paulo Giandalia/Folha Imagem
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Erika Palomino, autora do livro "Babado Forte"; obra traz retratos da ferveção |
da Reportagem Local
A jornalista Erika Palomino explica aqui como foi o processo de
confecção de seu livro "Babado
Forte", assume quais foram seus
clubes preferidos e diz que seu livro não é saudosista, mas romântico.
(CELSO FIORAVANTE)
Folha - A noite sempre tem
momentos em que não acontece nada e momentos de muita
efervescência. Esses momentos
baixos não minam sua confiança na cena clubber?
Erika Palomino - Eles não minam minha confiança, mas exigem mais trabalho. É preciso tirar
água de pedra.
Folha - Nem nos momentos
mais baixos você sentiu que esse filão já havia dado o que tinha de dar?
Palomino - Não, porque eu
sempre tive a consciência de que
isso acontece em qualquer lugar
do mundo. Em Nova York, por
exemplo, depois da era disco,
houve uma total depressão em
termos de música. Até que a cena
saísse do traço, demorou um pouco. Mas as pessoas sempre arrumam uma faísca de vida e de renovação, como é o caso das raves,
que surgiram no Brasil logo depois do final do Hell's.
Folha - Esse seu desejo de registrar tudo o que se passou
com a noite nos anos 90 não é
um desejo saudosista em relação a momentos e personagens
que marcaram a sua vida?
Palomino - Sem dúvida. O livro
começou como uma compilação
de notas. Eu queria mostrar como
aqueles procedimentos e como
toda a atitude jornalística em relação à noite eram frescos. Em 1992,
quando a coluna "Noite Ilustrada" começou, a situação era bastante diferente, não se falava em
clubber, em moda clubber, em
drag e em música eletrônica da
maneira que tudo isso está disseminado hoje.
A minha idéia era mostrar que,
na verdade, nós -nem eu como
jornalista, nem aquelas pessoas
que viviam daquela maneira-
estávamos errados. O livro começou assim, de uma vontade de interromper esse período e recontextualizar todas aquelas informações.
Quis deixar registrado no papel
coisas que não entraram na coluna, coisas que na época eu via de
maneira diferente, contar um
pouca essas histórias para as pessoas que estão chegando na noite
agora. Não sei se tudo isso é saudosismo, mas com certeza o livro
é nostálgico e romântico.
Folha - Na apresentação do livro você nega o seu caráter memorialístico, mas o que o livro
traz é também a sua história.
Como você conciliou essa necessidade de ver do lado de fora algo do qual você participou intensamente?
Palomino - Tive a preocupação
de não transformar o livro em
meu diário. Tive até a solicitação
dos editores para orientar o livro
para o que eu vi, para a primeira
pessoa, mas o meu vício de jornalista não me deixou fazer isso.
Eu fiz questão de dizer que não
se trata da história definitiva dessa
época, mas da minha visão como
jornalista. Até porque, em uma
noite, cada um tem a sua história.
Embora eu também ache que a
dignidade do papel acabe transformando o livro em verdade.
Folha - A linguagem do livro é
muito jornalística. Você chega
até a usar regras de estilo da Folha. Isso foi proposital?
Palomino - Eu queria mesmo
fazer jornalismo. Queria dar a
maior munição possível para o
leitor se aprofundar nos personagens, na história dos clubes. Existe nele uma preocupação em descrever os clubes como eles eram
para as pessoas serem transportadas para aquela época.
Folha - Por que o livro demorou três anos para ficar pronto?
Palomino - Eu tinha um prazo,
mas o estourei em um ano e meio.
Sempre tinha uma rave que eu
queria incluir e isso me deixou
preocupada. Era uma história que
não acabava de ser contada.
Folha - Quais os clubes que
marcaram a sua vida?
Palomino - Acho que o Papagaio's, no Rio, foi importante durante a minha pré-adolescência.
Eu ia no Roxy-Roller, na Lagoa, e
numa noite daquelas eu entrei.
Lembro-me de ter sentido tudo
com muita intensidade.
O primeiro ano do Massivo
também foi muito intenso para
mim. Foi quando eu voltei a sair,
depois que meus filhos tinham
crescido um pouco. Foi também
quando eu descobri todo esse universo. Isso coincidiu ainda com o
surgimento da coluna. O Sra. Krawitz me marcou pois era uma experiência muito absurda de diversão, de noite, de nonsense. E por
fim o Hell"s, que foi um divisor de
águas não só para mim, mas também para uma boa parte das pessoas que estão na cena.
Folha - Qual a parte de que você mais gosta do livro?
Palomino - Eu gosto da parte
das festas do Sra. Krawitz. Elas
eram tão saudáveis e inesperadas,
como a Noite das Facas Guinzu
ou Nossa Senhora do Make Up É
Drag. Era uma diversão irônica e
debochada. Era um clube que não
tinha política social, sexual, de
porta. Era um clube onde as pessoas iam apenas para se divertir.
Não tinha o carão ao qual a cena
clubber em São Paulo é associada.
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