São Paulo, sexta, 18 de dezembro de 1998

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Desenho é apologia do engenho

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Entre todos os filmes para crianças programados para estas férias, "Vida de Inseto" é provavelmente o melhor: tem humor, ritmo, beleza e invenção. Que mais se pode esperar de um desenho animado?
A comparação com "Formiguinhaz" é inevitável. Vamos a ela.
As semelhanças são evidentes: ambos têm como personagens formigas às voltas com outros insetos, utilizam técnicas similares de animação por computador, recorrem às vozes de atores famosos e podem ser vistos como fábulas sobre a sociedade contemporânea.
As diferenças entre os dois filmes, entretanto, saltam à vista já nas cenas de abertura: enquanto "Formiguinhaz" começa com um longo discurso de seu neurótico protagonista, "Vida de Inseto" abre com a imagem de uma folha que cai numa poça d'água.
Se "Formiguinhaz" baseia seu humor e sua crítica na expressão verbal, "Vida de Inseto" privilegia a imagem e o movimento.
Os dois filmes têm como protagonistas heróis desastrados, mas de natureza contrastante.
Z, de "Formiguinhaz", é um herói passivo, em fuga, que só realiza grandes feitos por acaso. Já Flik (voz de Dave Foley na versão legendada), de "Vida de Inseto", é um herói empreendedor e afirmativo, que quer mudar a vida de sua comunidade por meio da ciência e da imaginação.
À parte isso, "Vida de Inseto" tem muito mais cor, movimento, invenção visual, variedade de personagens e ambientes.
Inseto inventor
A história é a seguinte: numa colônia de formigas, oprimida por gafanhotos liderados pelo sinistro Hopper (voz de Kevin Spacey na versão legendada), o inquieto Flik -que vive inventando engenhocas para melhorar a vida da comunidade- tem a idéia de pedir ajuda a insetos grandes para rechaçar os opressores.
A população do formigueiro, pensando em se livrar do trapalhão Flik, concorda em mandá-lo em expedição à "cidade" (na verdade uma cabana no meio do mato, infestada de insetos variados). Flik volta de lá com uma trupe de artistas de circo, pensando que se trata de temíveis guerreiros.
Os membros desse "exército Brancaleone" -uma lagarta, um besouro, um louva-deus, pulgas e uma joaninha- acreditam, por sua vez, ter sido contratados para um espetáculo circense.
Por trás do caráter aparentemente aleatório das aventuras dessa turma, há um sentido comum (o que acentua seu caráter de fábula): diante da força bruta, a única arma válida é a inteligência.
Essa apologia do engenho é o ponto em que o filme mais se distancia de "Formiguinhaz".
Os dois desenhos moldam as formigas à imagem e semelhança do homem, mas de modos opostos. Em "Formiguinhaz" as qualidades humanas emprestadas às formigas são, em geral, as mais negativas: ambição, vaidade, covardia.
Aqui, ao contrário, o que há de humano nos insetos são qualidades nobres: inteligência, espírito de descoberta, invenção, arte.
Em tempo: não saia do cinema antes dos letreiros finais. Algumas das melhores piadas estão num falso "making of" exibido ao final.


Filme: Vida de Inseto (versões dublada e legendada) Produção: EUA, 1998 Direção: John Lasseter e Andrew Stanton Com as vozes de: Dave Foley, Kevin Spacey, Julia Louis-Dreyfus, Jonathan Harris Quando: a partir de hoje, nos cines Belas Artes-Villa Lobos, Eldorado 4, Paulista 2 e circuito




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