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Desenho é apologia do engenho
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
Entre todos os filmes para crianças programados para estas férias,
"Vida de Inseto" é provavelmente
o melhor: tem humor, ritmo, beleza e invenção. Que mais se pode esperar de um desenho animado?
A comparação com "Formiguinhaz" é inevitável. Vamos a ela.
As semelhanças são evidentes:
ambos têm como personagens formigas às voltas com outros insetos,
utilizam técnicas similares de animação por computador, recorrem
às vozes de atores famosos e podem ser vistos como fábulas sobre
a sociedade contemporânea.
As diferenças entre os dois filmes, entretanto, saltam à vista já
nas cenas de abertura: enquanto
"Formiguinhaz" começa com um
longo discurso de seu neurótico
protagonista, "Vida de Inseto"
abre com a imagem de uma folha
que cai numa poça d'água.
Se "Formiguinhaz" baseia seu
humor e sua crítica na expressão
verbal, "Vida de Inseto" privilegia
a imagem e o movimento.
Os dois filmes têm como protagonistas heróis desastrados, mas
de natureza contrastante.
Z, de "Formiguinhaz", é um herói passivo, em fuga, que só realiza
grandes feitos por acaso. Já Flik
(voz de Dave Foley na versão legendada), de "Vida de Inseto", é
um herói empreendedor e afirmativo, que quer mudar a vida de sua
comunidade por meio da ciência e
da imaginação.
À parte isso, "Vida de Inseto"
tem muito mais cor, movimento,
invenção visual, variedade de personagens e ambientes.
Inseto inventor
A história é a seguinte: numa colônia de formigas, oprimida por
gafanhotos liderados pelo sinistro
Hopper (voz de Kevin Spacey na
versão legendada), o inquieto Flik
-que vive inventando engenhocas para melhorar a vida da comunidade- tem a idéia de pedir ajuda a insetos grandes para rechaçar
os opressores.
A população do formigueiro,
pensando em se livrar do trapalhão Flik, concorda em mandá-lo
em expedição à "cidade" (na verdade uma cabana no meio do mato, infestada de insetos variados).
Flik volta de lá com uma trupe de
artistas de circo, pensando que se
trata de temíveis guerreiros.
Os membros desse "exército
Brancaleone" -uma lagarta, um
besouro, um louva-deus, pulgas e
uma joaninha- acreditam, por
sua vez, ter sido contratados para
um espetáculo circense.
Por trás do caráter aparentemente aleatório das aventuras dessa
turma, há um sentido comum (o
que acentua seu caráter de fábula):
diante da força bruta, a única arma
válida é a inteligência.
Essa apologia do engenho é o
ponto em que o filme mais se distancia de "Formiguinhaz".
Os dois desenhos moldam as formigas à imagem e semelhança do
homem, mas de modos opostos.
Em "Formiguinhaz" as qualidades
humanas emprestadas às formigas
são, em geral, as mais negativas:
ambição, vaidade, covardia.
Aqui, ao contrário, o que há de
humano nos insetos são qualidades nobres: inteligência, espírito
de descoberta, invenção, arte.
Em tempo: não saia do cinema
antes dos letreiros finais. Algumas
das melhores piadas estão num falso "making of" exibido ao final.
Filme: Vida de Inseto (versões dublada e
legendada)
Produção: EUA, 1998
Direção: John Lasseter e Andrew Stanton
Com as vozes de: Dave Foley, Kevin Spacey,
Julia Louis-Dreyfus, Jonathan Harris
Quando: a partir de hoje, nos cines Belas
Artes-Villa Lobos, Eldorado 4, Paulista 2 e
circuito
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