da Equipe de Articulistas

"Clandestino em Paris" é um filme simpático sobre a Paris dos imigrantes, mais ou menos na linha de "O Gato Sumiu", de Cédric Klapisch.
A história se concentra em poucos dias na vida de Mok (Mess Hattou), um imigrante argelino que hospeda em Paris um primo, Alilo (Gad Elmaleh), de passagem pela cidade para realizar um pequeno contrabando.
Os dois dividem um apartamento imundo num bairro decadente. Enquanto Mok tenta fugir de credores e ganhar algum dinheiro com apostas ou com os raps paupérrimos que compõe e canta, Alilo vai atrás de seus outros parentes que vivem em Paris.
Descobre que estão todos bem integrados à sociedade francesa: o tio vive de aposentadoria, a prima trabalha como taxista, a tia usa peruca e veste-se à moda ocidental.
Só o próprio Mok é um desajustado irremediável, embora o filme acabe justificando sua vida marginal, numa explicação sentimentalóide perfeitamente dispensável.
O destino de Alilo acaba sendo mais imprevisível, concentrado e interessante: envolve-se com uma bela negra, vizinha de Mok, e experimenta na pele, ao mesmo tempo, o gozo da diversidade étnica e o horror do racismo.


Visões da cidade De resto, o interesse do filme reside mais no tema e na ambientação do que propriamente em sua abordagem estética, que não vai muito além de um realismo prosaico e linear.
É possível que quem conheça a realidade dos imigrantes pobres de Paris e arredores condene "Clandestino em Paris" como excessivamente otimista, sobretudo se comparado com um drama explosivo como "O Ódio", de Mathieu Kassovitz.
Mas, olhando bem, está tudo ali: o racismo, o desemprego, a criminalidade, a deterioração urbana. E, afinal de contas, não existe uma única Paris, mas tantas quantas os homens são capazes de conceber e representar.
A Paris do diretor Merzak Allouache -ele mesmo de origem argelina- é uma metrópole cheia de cantos escuros, mas na qual, com um pouco de sorte, pode-se encontrar a luz e o amor.
(JOSÉ GERALDO COUTO)