Longa, que é tenso mesmo sem exibir cenas de luta, foi indicado ao Oscar de ator coadjuvante e roteiro original

ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

Depois de "Guerra ao Terror", chega aos cinemas outro filme poderoso sobre o conflito no Iraque. Só que este é um filme de guerra diferente. Não há um só tiro disparado e nenhuma cena de combate. Mesmo assim, "O Mensageiro" é mais eficaz ao condenar o belicismo do que muitos filmes cheios de ação.
O personagem central é o oficial Will Montgomery (Ben Foster), um herói de guerra que, ao retornar do Iraque, é destacado para uma unidade do Exército cuja missão é notificar as famílias de soldados mortos em combate. Seu parceiro é o veterano Tony Stone (Woody Harrelson), sujeito que segue à risca o protocolo, que proíbe qualquer tipo de aproximação pessoal com os parentes dos mortos. "Nada de abraços", diz Stone. "Estamos aqui para informar a alguém que um ente querido foi morto. E só."
A missão, como Montgomery não demora a descobrir, exige tanto preparo psicológico quanto qualquer incursão pelas ruas de Bagdá. Em cada casa que visitam, o desespero das famílias se repete: Montgomery e Stone são agredidos e xingados. Mas são firmes. Reagir, mesmo que para consolar uma mãe, é proibido pelo manual.
As coisas se complicam ainda mais quando Montgomery fica atraído por Olivia (Samantha Morton), uma viúva que ele mesmo notificou sobre a morte do marido. O dilema ético é imenso, e toda a pressão acaba desabando sobre o soldado.
Ben Foster, que já havia dado o que falar em "Alpha Dog", mostra que merecia ser indicado a um Oscar (como foi Woody Harrelson, também brilhante). A primeira metade do filme, mostrando as missões da dupla, é de uma tensão quase insuportável. Pena que o diretor Oren Moverman (roteirista de "Não Estou Lá", a hermética cinebiografia de Bob Dylan dirigida por Todd Haynes) não parece encontrar um epílogo para uma história tão forte, e o filme termina de maneira frouxa. Apesar disso, "O Mensageiro" prova que falar das consequências da guerra pode ser tão poderoso quanto mostrá-la.