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ANÁLISE
Espanhol é o azarão
LEON CAKOFF
da Equipe de Articulistas
Dos cinco candidatos ao Oscar
de filme estrangeiro, "Central do
Brasil", de Walter Salles, é o que
melhor resume uma sinceridade
rara de cinema. E o resgate da inocência perdida.
É uma contradição, mas a torcida
contra o lobby armado pela Miramax cega como em qualquer guerra fratricida.
Acabamos nos esquecendo de
que o tipo de filme produzido ou
promovido pela Miramax é um refresco em meio aos ácidos da temporada como "Armageddon" ou
"Godzilla".
A Miramax globalizou o cinema
inteligente. Irrita porque se vale
dos mesmos recursos usados por
produtores avessos ao modelo de
cinema pensante.
É capaz de manobras radicais,
como esconder filmes por um ano
seguido, até o próximo Oscar. Fez
isso com o australiano "Shine", repetiu agora com o iraniano "Filhos
do Paraíso".
Seu único concorrente, em anos
mais recentes, é o braço Sony Classics da conservadora Columbia.
Sony Classics e Miramax dividem
entre si os direitos globais de "Central Station" (ou "Central do Brasil"). Algo de errado?
Sem convite
O azarão da lista dos cinco títulos
estrangeiros é o espanhol "El
Abuelo" (O Avô), de Jose Luis Garci. Parece um intruso sem convite
para a festa.
Prova que a indústria do cinema
espanhol está sob influência de retrógrados.
Os melhores filmes espanhóis do
ano são "Os Amantes do Círculo
Polar", de Julio Meden, e "Barrio",
de Fernando Leon de Aranda. Assim como em 98 era "Carne Trêmula", de Almodóvar, que nem sequer foi indicado.
"El Abuelo" é de fazer Buñuel revirar-se na cova. Lembra um cinema popular mexicano dos anos 40
ou 50.
Clerical, machista e monarquista, faz o monumental Fernando
Fernan Gomez atuar como um nobre decadente preocupado em descobrir qual de suas duas netas é a
legítima para que a sua linhagem
não acabe.
Por via das dúvidas, a Miramax
parece já ter garantidos os seus direitos de distribuição mundial.
O terrível é que os farejadores de
mercados e tendências para Hollywood sempre descobrem com
atraso em que novidade apostar. É
como se o mundo real só existisse
do momento em que Hollywood
desse seu aval.
Foram-se dez anos até se darem
conta da existência de um modesto
cinema iraniano que pode ter mais
espectadores do que muitas de
suas produções milionárias.
Tudo, menos argentino
"Tango" é de Carlos Saura, da
Sony Classics e só não é da Argentina. O seu status de co-produção
reúne capital e talentos da Espanha, Itália, Alemanha e França.
É um belo filme no filão coreográfico descoberto por Saura desde que o seu cinema perdeu o eixo
antifranquista. E insípido. Em suas
imagens, a beleza se basta para excluir a reflexão.
Assim como o riso e a comoção
se bastam para elevar o pequeno e
delicioso filme do italiano Roberto
Benigni à injusta categoria de
obra-prima.
"A Vida é Bela", "Filhos do Paraíso" e "Central do Brasil" têm a fórmula de um cinema humanitário
que surpreende o mundo pelo lastro de comoção e pelo público que
leva aos cinemas.
Entre os três, o mais sincero e
menos manipulado deles, o que
chama a atenção e é premiado desde a fase do seu projeto no papel é o
nosso "Central Station". Com Fernanda Montenegro de reboque, no
lucro por sua indicação, trata-se já
de uma grande vitória.
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