São Paulo, Sexta-feira, 19 de Março de 1999
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SHOW
Veterano grupo inglês de hard rock inicia hoje sua 3ª turnê no país; Cds "Abandon" e "The Very Best of" são a base
Morse mantém unida a 'família' Deep Purple

MARCELO MOREIRA
da Agência Folha


Um grupo de garotos costumava jogar futebol todas as tardes. Um deles se considerava o melhor deles e ainda por cima insistia em ser o dono da bola. Por isso, brigava com todo mundo e deixava o clima do jogo ruim. Um dia, cansados, os outros garotos resolveram comprar uma bola e jogar em outra rua, largando o chato sozinho. A partir daí comçaram a ganhar as partidas.
Essa foi a parábola que Ian Gillan, vocalista do grupo inglês Deep Purple usou para se referir ao momento positivo da banda atualmente.
A "bola nova" é o guitarrista norte-americano Steve Morse, que substituiu o "chato" Ritchie Blackmore, que saiu do grupo em 1993.
Para Gillan, que realiza hoje com o Deep Purple, no Via Funchal, na Vila Olímpia, o primeiro dos três shows programados para São Paulo, Morse é a chave do sucesso que a banda volta a desfrutar.
"A saída de Blackmore foi um alívio para todos. O clima estava ruim e ninguém estava tocando bem. Morse nos devolveu a vontade e a alegria de tocar. Não hesito em dizer hoje que ressuscitamos e que temos um clima "familiar" na banda", afirmou o vocalista à Agência Folha.
A terceira turnê do Deep Purple no Brasil faz parte das comemorações dos 30 anos de criação do grupo, que começaram no ano passado.
Os carros-chefes das comemorações são os CDs "Abandon", o mais recente do grupo, e o duplo "The Very Best of Deep Purple", considerada a mais completa coletânea da banda já lançada.
Quando da divulgação da nova turnê pelo Brasil, muitos críticos não perderam a oportunidade de destratarem o Deep Purple, afirmando que agora eles não passam de um bando de cinquentões (sessentões, no caso do tecladista Jon Lord) no ocaso de suas carreiras querendo ganhar dinheiro fácil nos trópicos.
Aí ressurge a velha pergunta: por que o Deep Purple não veio ao Brasil no auge de sua forma, na primeira metade dos anos 70?
A resposta foi dada pelo baterista Ian Paice: "Nunca fomos convidados a tocar por aqui naquela época. Na verdade, a questão por trás disso é outra: qual é o melhor Purple? Essa discussão é inócua. Em 1972 e 1973 o Purple era outro grupo, tinha outras idéias. Hoje nós temos um novo integrante e estamos integrados à atualidade."
A julgar pelo sucesso dos dois álbuns gravados com Steve Morse até agora ("Purpendicular", de 1996, e "Abandon", de 1998), Paice tem razão.
Morse teve a difícil missão de substituir Blackmore, fundador da banda e ídolo de uma geração de guitarristas (inclusive do próprio Morse), em um CD que seria o sucessor de "The Battle Rages On", de 1993, o melhor da banda desde "Perfect Strangers", de 1984.
Ex-membro de bandas como Dixie Dregs e Kansas, o novo guitarrista simplesmente eliminou a sombra de Blackmore e criou um novo estilo para se adaptar ao Deep Purple.
Nada de solos virtuosos à velocidade da luz, como fazia em sua Steve Morse Band. O segredo estava nas raízes da própria banda, o velho e bom blues pesado, que ganhou vida nova com a guitarra de timbres limpos de Morse.
Quem ganhou com isso foi Jon Lord, cujo teclado antes era ofuscado pelos solos e fraseados longos de Blackmore.
O resultado é que o som do grupo ficou mais encorpado e mais solto. As novas músicas permitem maior improvisação e dão mais nitidez às influências jazzísticas do baterista Ian Paice e do baixista Roger Glover.
Foram todos esses elementos que surpreenderam quem esperava ver velhos caquéticos na turnê brasileira de 1997. Daqueles 20 shows, pelo menos dois foram memoráveis, um em São Paulo e outro em Santo André (SP). O quinteto tem tudo para repetir a dose.


Show: Deep Purple
Local: Via Funchal
Endereço: rua Funchal, 65, Vila Olímpia
Dias: hoje, amanhã e domingo
Preços: de R$ 40,00 a R$ 70,00




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