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CRÍTICA
Cantor mostra que tem muito a dizer, muita ansiedade ao dizer
DO ENVIADO A SALVADOR
A questão é que ele é uma
metralhadora giratória, um
trator desgovernado, uma usina
nuclear de música. Mais uma vez,
Carlinhos Brown quer mostrar
tudo ao mesmo tempo, mesmo
que isso implique prejuízo de
compreensão, em falta de foco.
O projeto Tribalistas demonstrou a quem quis ouvir que há um
doce e equilibrado intérprete escondido atrás de Brown. Esse diz
presente em "Carlito Marrón", especialmente em momentos mais
tranquilos como os de "I Wanna
Lu" e "Alá A A".
Como esses mesmos títulos indicam, as letras continuam caóticas, herméticas, exclusivamente
sonoras. OK, é o modo de expressão de Brown, já se sabe. Mas roubam atenção do bom intérprete
que por vezes soterram.
Algo análogo pode se dizer do
músico. "Carlito Marrón" é riquíssimo de sonoridades, quase
sempre centradas com propriedade (e sem apelação) no tal princípio de "afrolatinidade".
Às vezes Carlito até vai além, como no ponto alto que é "My Honey", zombeteira "tecnotimbalada". Mas frequentemente as referências resultam amontoadas, se
não sabotadas pela necessidade
ansiosa de citar "tudo".
Há muito detalhe saboroso abafado sob a poeira do estardalhaço
-órgãos cafonas de iê-iê-iê, vocalise robotizado (na doce "Talavera"), Bebel Gilberto fingindo-se
de cantora trovejante de axé, mil e
uma interferências hispânicas.
A tese é de arromba: a ligação
África-Caribe-Espanha-América
Latina é um bem cultural que o
Brasil domina com dinamismo,
como há muito preconizavam, tateando, os tropicalistas. O dilema
de Brown, o já conhecido: como
comunicar isso tudo a um país
grande que está longe de ser só
Bahia?
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Carlito Marrón
Artista: Carlinhos Brown
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 28, em média
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