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"O QUE FAZER..."
História se perde na fragilidade dos personagens
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Em "O Que Fazer em Caso de Incêndio", seis
amigos que no passado foram punks se reencontram
depois da explosão de uma
bomba caseira, plantada por
eles há mais de 20 anos.
Apenas Tim (Til Schweiger) e Hotte (Martin Feifel)
se mantiveram fiéis à filosofia punk e continuaram habitando um prédio ocupado.
Os outros se renderam aos
valores burgueses da Berlim
unificada. O reencontro tem
um objetivo: eliminar os filmes confiscados pela polícia
com a prova de que foram
eles os autores do atentado
retardado. Mas os filmes estão guardados em um depósito, uma fortaleza policial.
Os ex-punks que antes partiam para o confronto direto com o sistema agora
precisam burlá-lo. O grande potencial que há nessa história, porém, é desperdiçado.
Vê-se no modo de dirigir de Gregor Schnitzler um esforço enorme para fazer um filme agradável, com direito a um quase-videoclipe que interrompe a trama, imagem em câmera lenta e música do
Radiohead. É, no mínimo, uma postura contraditória
em relação à trajetória daqueles personagens.
O medo de encarar as
questões sugeridas tem como consequência mais grave
a transformação dos personagens em estereótipos. O
diretor induz a uma visão
cruel de Tim e Hotte, os únicos que permaneceram fiéis
ao anarquismo, sugerindo
que o primeiro é apenas um
fracassado e leva o púbico a
ter piedade do segundo.
O personagem que menos
convence, porém, é Maik
(Sebastian Blomberg), dono
de uma agência publicitária,
arrogante e vilanesco.
Schnitzler talvez quisesse demonstrar isenção e espírito
crítico, já que ele mesmo
vem da publicidade. Mas
apenas acentuou a sua imaturidade para tratar de um
assunto dessa envergadura.
O Que Fazer em Caso de Incêndio?
What to Do in Case of Fire?
Produção: Alemanha, 2001
Direção: Gregor Schnitzler
Com: Til Schweiger, Doris Schretzmayer
Quando: a partir de hoje nos cines
Cinearte, Frei Caneca, Lumière,
Sala UOL
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