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São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 2003

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"O QUE FAZER..."

História se perde na fragilidade dos personagens

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Em "O Que Fazer em Caso de Incêndio", seis amigos que no passado foram punks se reencontram depois da explosão de uma bomba caseira, plantada por eles há mais de 20 anos.
Apenas Tim (Til Schweiger) e Hotte (Martin Feifel) se mantiveram fiéis à filosofia punk e continuaram habitando um prédio ocupado. Os outros se renderam aos valores burgueses da Berlim unificada. O reencontro tem um objetivo: eliminar os filmes confiscados pela polícia com a prova de que foram eles os autores do atentado retardado. Mas os filmes estão guardados em um depósito, uma fortaleza policial.
Os ex-punks que antes partiam para o confronto direto com o sistema agora precisam burlá-lo. O grande potencial que há nessa história, porém, é desperdiçado. Vê-se no modo de dirigir de Gregor Schnitzler um esforço enorme para fazer um filme agradável, com direito a um quase-videoclipe que interrompe a trama, imagem em câmera lenta e música do Radiohead. É, no mínimo, uma postura contraditória em relação à trajetória daqueles personagens.
O medo de encarar as questões sugeridas tem como consequência mais grave a transformação dos personagens em estereótipos. O diretor induz a uma visão cruel de Tim e Hotte, os únicos que permaneceram fiéis ao anarquismo, sugerindo que o primeiro é apenas um fracassado e leva o púbico a ter piedade do segundo.
O personagem que menos convence, porém, é Maik (Sebastian Blomberg), dono de uma agência publicitária, arrogante e vilanesco. Schnitzler talvez quisesse demonstrar isenção e espírito crítico, já que ele mesmo vem da publicidade. Mas apenas acentuou a sua imaturidade para tratar de um assunto dessa envergadura.


O Que Fazer em Caso de Incêndio?
What to Do in Case of Fire?
 
Produção: Alemanha, 2001
Direção: Gregor Schnitzler
Com: Til Schweiger, Doris Schretzmayer
Quando: a partir de hoje nos cines Cinearte, Frei Caneca, Lumière, Sala UOL



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