São Paulo, sexta-feira, 19 de junho de 2009

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CINEMA/ESTREIAS

Crítica/"Trama Internacional"

Thriller mescla suspense sereno e ação tresloucada

Em tom de denúncia, filme de Tykwer ecoa crise e tem banqueiro como vilão

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

H ouve um tempo, sob os efeitos da Guerra Fria, em que vilões de aventuras e suspenses multinacionais eram governos e seus aparatos de inteligência, com predileção pela extinta URSS e sua temível KGB -circunstância satirizada, já nos anos 60, pela série de TV "Agente 86", de Mel Brooks e Buck Henry. Aos poucos, as grandes corporações começaram a tomar esse lugar como reverberação à ideia de que governantes são meros títeres de interesses privados. Nada mais natural, hoje, do que os vilões nesse gênero de filme serem representantes da elite econômica, banqueiros, responsabilizados pela crise global que explodiu em 2008. "Trama Internacional" dá a impressão de pegar carona na recente percepção popular de que não se compra carro usado de banqueiro, mas a inspiração para o argumento é mais antiga: o escândalo que fechou, em 1991, o BCCI (Banco de Crédito e Comércio Internacional), envolvido em esquema gigantesco de lavagem de dinheiro. Além disso, o calendário original do filme -dirigido pelo alemão Tom Tykwer, de "Corra, Lola, Corra" (1998) e "Perfume - A História de um Assassino" (2006)- previa o lançamento para agosto de 2008. Reações negativas às primeiras exibições levaram os produtores a rodar novas sequências e a montar outra versão, que entrou em cartaz nos EUA em fevereiro. Entre a primeira e a segunda datas, estourou a crise. O adiamento deu a "Trama Internacional" um caráter de denúncia que não havia sido planejado, ao menos com a temperatura de quem parece se comunicar com o noticiário econômico, e explica por que dois filmes convivem no mesmo longa: um, de suspense, sereno e climático; outro, de ação, vigoroso e tresloucado. O conjunto é heterogêneo, mas as partes (ou trechos delas) são superiores ao todo. No bloco voltado ao suspense, privilegiam-se os mistérios em torno de um banco cujas operações são investigadas por um agente da Interpol (o inglês Clive Owen) ao lado de uma promotora de Nova York (a também britânica Naomi Watts). De acordo com a tradição do gênero, a história faz turismo por Berlim, Lyon, Luxemburgo, Milão e Istambul -embora nem tudo tenha sido filmado nessas cidades- para elucidar como o vilão (o dinamarquês Ulrich Thomsen, de "Festa de Família" e "Brothers") envolve governos e empresários. No bloco que busca atrair o público de ação, o destaque vai para um episódio de carnificina e destruição no museu Guggenheim, em Nova York, reconstituído em estúdio com o perfeccionismo de quem julgou necessária uma sequência inebriante para tentar equilibrar o produto no mercado, correndo o risco de desequilibrar o filme.


TRAMA INTERNACIONAL

Direção: Tom Tykwer
Produção: EUA/Alemanha/Inglaterra, 2009
Com: Clive Owen, Naomi Watts e Armin Mueller-Stahl
Onde: a partir de hoje nos cines Bristol, Kinoplex Itaim e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom




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