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CINEMA/ESTREIAS
Crítica/"Trama Internacional"
Thriller mescla suspense sereno e ação tresloucada
Em tom de denúncia, filme de Tykwer ecoa crise e tem banqueiro como vilão
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
H
ouve um tempo, sob
os efeitos da Guerra
Fria, em que vilões de
aventuras e suspenses multinacionais eram governos e seus
aparatos de inteligência, com
predileção pela extinta URSS e
sua temível KGB -circunstância satirizada, já nos anos 60,
pela série de TV "Agente 86", de
Mel Brooks e Buck Henry.
Aos poucos, as grandes corporações começaram a tomar
esse lugar como reverberação à
ideia de que governantes são
meros títeres de interesses privados. Nada mais natural, hoje,
do que os vilões nesse gênero
de filme serem representantes
da elite econômica, banqueiros,
responsabilizados pela crise
global que explodiu em 2008.
"Trama Internacional" dá a
impressão de pegar carona na
recente percepção popular de
que não se compra carro usado
de banqueiro, mas a inspiração
para o argumento é mais antiga: o escândalo que fechou, em
1991, o BCCI (Banco de Crédito
e Comércio Internacional), envolvido em esquema gigantesco
de lavagem de dinheiro.
Além disso, o calendário original do filme -dirigido pelo
alemão Tom Tykwer, de "Corra, Lola, Corra" (1998) e "Perfume - A História de um Assassino" (2006)- previa o lançamento para agosto de 2008.
Reações negativas às primeiras
exibições levaram os produtores a rodar novas sequências e a
montar outra versão, que entrou em cartaz nos EUA em fevereiro. Entre a primeira e a segunda datas, estourou a crise.
O adiamento deu a "Trama
Internacional" um caráter de
denúncia que não havia sido
planejado, ao menos com a
temperatura de quem parece se
comunicar com o noticiário
econômico, e explica por que
dois filmes convivem no mesmo longa: um, de suspense, sereno e climático; outro, de ação,
vigoroso e tresloucado.
O conjunto é heterogêneo,
mas as partes (ou trechos delas) são superiores ao todo. No
bloco voltado ao suspense, privilegiam-se os mistérios em
torno de um banco cujas operações são investigadas por um
agente da Interpol (o inglês Clive Owen) ao lado de uma promotora de Nova York (a também britânica Naomi Watts).
De acordo com a tradição do
gênero, a história faz turismo
por Berlim, Lyon, Luxemburgo, Milão e Istambul -embora
nem tudo tenha sido filmado
nessas cidades- para elucidar
como o vilão (o dinamarquês
Ulrich Thomsen, de "Festa de
Família" e "Brothers") envolve
governos e empresários.
No bloco que busca atrair o
público de ação, o destaque vai
para um episódio de carnificina
e destruição no museu Guggenheim, em Nova York, reconstituído em estúdio com o perfeccionismo de quem julgou
necessária uma sequência inebriante para tentar equilibrar o
produto no mercado, correndo
o risco de desequilibrar o filme.
TRAMA INTERNACIONAL
Direção: Tom Tykwer
Produção: EUA/Alemanha/Inglaterra, 2009
Com: Clive Owen, Naomi Watts e
Armin Mueller-Stahl
Onde: a partir de hoje nos cines
Bristol, Kinoplex Itaim e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom
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