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Prêmio da ABL volta a ser alvo de polêmica
Tradutores veem erros em obras do vencedor da categoria neste ano
Escolha rende R$ 50 mil e é feita com base em indicações de imortais;
em 2007, premiação já
suscitara controvérsia
FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO
Três anos após causar espécie ao dar seu prêmio máximo, o Machado de Assis
(R$ 100 mil), ao economista
Roberto Cavalcanti de Albuquerque, que escreveu um livro com o presidente Marcos
Vinicios Vilaça, a Academia
Brasileira de Letras volta a ter
uma de suas premiações no
centro de uma polêmica.
Tradutores apontaram erros que consideram "inacreditáveis" no trabalho do vencedor da categoria "tradução", o médico pernambucano Milton Lins, e contestam
os critérios para a escolha
dos laureados -por indicação, e não por inscrição.
Num poema do franco-uruguaio Jules Laforgue, em
"Pequenas Traduções de
Grandes Poetas -Volume 4",
Lins traduz o que seria "têmpora" como "tampa" e transforma "fresca" em "frete".
Em outra obra, na tradução do poema "Zona", de
Apollinaire, "les hangars de
Port-Aviation" (os hangares
[do aeroporto] de Port-Aviation) viraram "o hangar de algum Porta-Avião".
Os equívocos foram revelados pela tradutora Denise
Bottmann, no blog naogostodeplagio.blogspot.com,
e críticas ressoaram no meio.
"São sandices completas,
não têm nada a ver [com o
original]. Se o prêmio da ABL
fosse um dicionário francês-português, já ajudava", afirmou Jório Dauster, tradutor
de Nabokov e Salinger.
"A questão não é qualidade poética [da tradução], mas
falta de domínio da língua
para se aventurar a fazer suas
criações", diz Bottmann.
Integrante da diretoria da
associação brasileira de tradutores, Joana Canêdo definiu os erros como "aberrantes" e diz que escreverá uma
carta à ABL questionando os
critérios da premiação.
Ele próprio covencedor do
prêmio em 2005, Ivo Barroso,
tradutor de Rimbaud, declarou que "por aqueles exemplos que aparecem no blog
da Denise, realmente há uma
tradução fraca". "Mas a Academia tem o direito de dar o
prêmio a quem ela quiser".
Barroso toca, aí, na questão nevrálgica. O fato de ser
uma entidade privada, que
vive às suas próprias custas,
é bafejado pela ABL cada vez
que se contesta sua conduta.
"Mas é o órgão máximo da
literatura brasileira", diz
Dauster. "Até em virtude de
sua imensa importância histórica, tem uma responsabilidade social e pública por
seus atos que ultrapassa em
muito a esfera privada",
emenda Bottmann.
Os indicados pelos acadêmicos não são divulgados.
Criado em 2003, o prêmio
de tradução da ABL já foi dado a Boris Schnaiderman
(2003), Bárbara Heliodora
(2007) e Paulo Bezerra
(2009), entre outros. O vencedor recebe R$ 50 mil.
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