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LIVROS
CRÍTICA ROMANCE
Pouco inspirada, Patrícia Melo repete história banal
Novo livro da escritora, refém do estilo de Rubem Fonseca, provoca tédio
ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
Não há nada errado em
contar de novo uma história
(quase) igual, como sabem
por exemplo todos os fãs de
Woody Allen.
Nem obviamente no contrário, em buscar a cada obra
lidar com problemas diferentes, como faz um escritor como Ian McEwan (e seu novo
romance, o impressionante e
desigual "Solar", lançado há
pouco na Inglaterra, reforça
uma vez mais o perfil "explorador" do autor): o que importa, no final das contas, é
como essa história é contada.
O problema surge quando
uma história banal é repetidas vezes contada de forma
-para ser delicado- pouco
inspirada.
É o que acontece com a
produção recente da escritora Patrícia Melo, como se pode constatar neste "Ladrão
de Cadáveres".
DESÂNIMO
Prisioneiro do universo temático do autor Rubem Fonseca, o "eterno amigo" a
quem ela agradece pela "leitura atenta" no final do volume, o romance provoca a cada pequeno capítulo a mesma sensação de tédio: pouco
muda, além dos nomes, do
ambiente (quanto mais exótico, mais "bacana"), dos tipos de crime.
O fato é que, ao encontrar
o seguinte trecho já na primeira página do livro, é impossível não desanimar:
"(...) Ao longe, ouço barulhos de carrinhos de rolimã
rasgando o asfalto. Assobiam.
Esses porras desses índios
de araque, diz Sulamita, levantando-se nua e indo para
o banheiro.
Lá embaixo, a velha grita.
A índia. Ainda ontem ela me
contou que sabe trançar palha de acuri".
Logo conhecemos um
pouco melhor o narrador, o
"ladrão de cadáveres" do título, a jovem policial honrada e depois não tão honrada
assim, os outros policiais nada honrados, a amante insistente, o traficante boliviano
cruel e impiedoso, o índio
preguiçoso, a poderosa e sofrida família de criadores de
gado.
Enfim, como diria Scarlett
O'Hara, amanhã é um novo
dia e a originalidade analítica do crítico (se existe) tem lá
os seus limites.
Registre-se, contudo, o belo trabalho de edição da Rocco, que publicou este volume
e vem relançando as obras
anteriores da autora.
ADRIANO SCHWARTZ é professor de
literatura da EACH (Escola de Artes,
Ciências e Humanidades) da USP.
LADRÃO DE CADÁVERES
AUTORA Patrícia Melo
EDITORA Rocco
QUANTO R$ 29 ( 208 págs.)
AVALIAÇÃO ruim
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