São Paulo, sábado, 19 de junho de 2010

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LIVROS

CRÍTICA ROMANCE

Pouco inspirada, Patrícia Melo repete história banal

Novo livro da escritora, refém do estilo de Rubem Fonseca, provoca tédio

ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não há nada errado em contar de novo uma história (quase) igual, como sabem por exemplo todos os fãs de Woody Allen. Nem obviamente no contrário, em buscar a cada obra lidar com problemas diferentes, como faz um escritor como Ian McEwan (e seu novo romance, o impressionante e desigual "Solar", lançado há pouco na Inglaterra, reforça uma vez mais o perfil "explorador" do autor): o que importa, no final das contas, é como essa história é contada. O problema surge quando uma história banal é repetidas vezes contada de forma -para ser delicado- pouco inspirada. É o que acontece com a produção recente da escritora Patrícia Melo, como se pode constatar neste "Ladrão de Cadáveres".

DESÂNIMO
Prisioneiro do universo temático do autor Rubem Fonseca, o "eterno amigo" a quem ela agradece pela "leitura atenta" no final do volume, o romance provoca a cada pequeno capítulo a mesma sensação de tédio: pouco muda, além dos nomes, do ambiente (quanto mais exótico, mais "bacana"), dos tipos de crime.
O fato é que, ao encontrar o seguinte trecho já na primeira página do livro, é impossível não desanimar:
"(...) Ao longe, ouço barulhos de carrinhos de rolimã rasgando o asfalto. Assobiam.
Esses porras desses índios de araque, diz Sulamita, levantando-se nua e indo para o banheiro.
Lá embaixo, a velha grita. A índia. Ainda ontem ela me contou que sabe trançar palha de acuri".
Logo conhecemos um pouco melhor o narrador, o "ladrão de cadáveres" do título, a jovem policial honrada e depois não tão honrada assim, os outros policiais nada honrados, a amante insistente, o traficante boliviano cruel e impiedoso, o índio preguiçoso, a poderosa e sofrida família de criadores de gado.
Enfim, como diria Scarlett O'Hara, amanhã é um novo dia e a originalidade analítica do crítico (se existe) tem lá os seus limites.
Registre-se, contudo, o belo trabalho de edição da Rocco, que publicou este volume e vem relançando as obras anteriores da autora.

ADRIANO SCHWARTZ é professor de literatura da EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades) da USP.



LADRÃO DE CADÁVERES

AUTORA Patrícia Melo
EDITORA Rocco
QUANTO R$ 29 ( 208 págs.)
AVALIAÇÃO ruim


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