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NOVAS MÍDIAS
Arquiteto e artista multimídia polonês está em SP para conhecer projeto "BrasMitte" do Arte/Cidade
Wodiczko leva excluídos a espaço público
PATRICIA DECIA
da Reportagem Local
Política, direitos civis, desenvolvimento social e a expressão dos
excluídos são preocupações centrais no trabalho do arquiteto e artista multimídia polonês Krzysztof
Wodiczko, que visita São Paulo a
convite do Arte/Cidade.
Wodiczko veio conhecer o projeto de intervenção urbana "BrasMitte" (leia texto abaixo) e mostrar alguns de seus trabalhos, realizados sempre no espaço público.
Primeiro, foram projeções em
monumentos e edifícios, como a
sede do MIT (Massachusetts Institute of Technology), no qual ele
dirige atualmente o Interrogative
Design Group, no Media Lab.
Depois, a criação do "Homeless
Vehicle", a partir de carrinhos de
supermercado usados pelos
sem-teto de Nova York.
Mais recentemente, desenvolveu
o "Alien Staff", o cajado do estrangeiro, que traz relatos e documentos de imigrantes.
Sua última projeção, em Cracóvia, na Polônia, une imagens em
movimento e sons. E dá a mulheres, homossexuais e viciados em
drogas as dimensões da torre da
prefeitura, um dos mais importantes edifícios da cidade.
Sobre o Brasil, ele diz que, para o
artistas que adotam postura semelhante a sua, não há escolha senão
transformar os excluídos em
agentes nos projetos. "Não podemos caminhar sem a colaboração
dessas pessoas", disse, em entrevista por telefone, de Nova York.
Folha - O sr. vem ao Brasil para
conhecer melhor o projeto BrasMitte. O que espera?
Krzysztof Wodiczko - Não quero ser um expert quando se trata de
projetos tão enraizados numa história e em modos de percepção e
discurso específicos. Só posso ir e
aprender. Poderei apresentar algo
do meu trabalho, desenvolvido
num contexto diferente. Mas é
sempre muito bom encontrar artistas que trabalham em projetos
críticos e públicos, envolvendo
história e memória, em relação a
assuntos contemporâneos.
Folha - Suas projeções detonam
um processo educacional?
Wodiczko - É uma combinação
de coisas. É educacional, pois,
quando as pessoas lêem jornais ou
assistem a programas de televisão
sobre os marginalizados, aprendem algo. Mas eles não chegam
perto dessa experiência necessariamente. Estou usando monumentos arquitetônicos como uma
mídia com a qual as pessoas têm
uma relação bastante íntima. Em
outras palavras, os espectadores as
habitam, podem já ter se projetado
mentalmente nessas estruturas.
Folha - E qual o efeito disso?
Wodiczko - Quando vêem outra pessoa habitando essa estrutura, têm de dividir os monumentos,
como se houvesse colegas de quarto invasores. Isso é, psicologicamente, um processo muito poderoso de compreender a experiência do outro, via arquitetura. Para
os participantes, é um processo
gradual de aceitação do conhecimento. Nos dois casos, tem a ver
com desenvolvimento psicológico
e social, democrático.
Folha - Político?
Wodiczko - Sim. Arquitetura
em espaços abertos ainda opera
sob a aura do antigo espaço público democrático. Mesmo que essa
área não esteja realmente funcionando assim, é muito mais fácil,
ainda, falar a verdade a milhares
de pessoas no centro da cidade do
que a um amigo próximo. E, para
uma pessoa que está entre os milhares de expectadores, é mais fácil
ver a experiência dolorosa daquele
que está na torre porque é parte artificial, parte real. É algo como
uma experiência transitória.
Folha - O espaço público é hoje o
lugar onde há violência. Qual a posição do artista diante disso?
Wodiczko - Acho que não há escolha a não ser estabelecer contato
com as pessoas que moram nessas
áreas e desenvolver projetos específicos com eles, em que eles serão
os atores principais. Em vez de trabalhar em nome deles, deixá-los
ser parte. Isso é muito difícil, porque, claramente, há conflitos e antagonismos. Ativistas estão tentando estabelecer a comunicação
entre vários grupos. Não podemos
caminhar sem a colaboração dessas pessoas. Essa é minha esperança, não dizendo que isso é fácil.
Folha - O sr. diz que suas criações, como o "Homeless Vehicle",
não são soluções para problemas.
Qual é, então, sua função?
Wodiczko - É ajudar a criar uma
situação que contribuirá para um
futuro em que esse tipo de trabalho não será necessário. Eles respondem a necessidades de emergência, que são, espero, temporárias. O veículo torna-se um veículo
de comunicação, porque é um objeto legítimo, não "roubado". As
pessoas começam a imaginar soluções que substituiriam esses projetos ridículos. Mas o projeto é ridículo porque a situação é ridícula.
O projeto responde à impossibilidade da situação. Então, nesse sentindo, o projeto é impossível.
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