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João Nogueira
importa paulistas
PAULO VIEIRA
especial para a Folha
Duas isquemias cerebrais num
único mês adiaram os planos de
lançamento de "De Todos os
Sambas", o novo CD de João Nogueira, 56, que chega às lojas. Recuperado, apenas com uma sequela na perna esquerda, objeto agora
de fisioterapia, Nogueira quer esquecer os 11 dias na CTI e as isquemias que "bateram na trave".
Seu novo disco descontentou
crítica e/ou puristas ao incorporar
compositores de São Paulo como
Luís Carlos (Raça Negra) e Dedé
Paraíso -deste, João conheceu algo a respeito apenas ao ler o release de seu próprio disco.
"Gravar esses sambas foi uma
imposição do produtor, eu tinha
me preparado para um disco de
apenas músicas inéditas minhas",
disse ele à Folha, do Rio, por telefone. "Mas gosto do resultado,
"Haja Coração' é um samba médio, e por aí vai."
Nogueira não vê sentido em críticas bairristas. "Bairrismo se parece com racismo. Não dá para dizer que samba bom é o samba feito
no Rio. Ary Barroso e Ataulfo Alves eram mineiros. Samba é a junção da harmonia européia com o
ritmo africano, e São Paulo tem
muitos negros."
Mas não há apenas sambas de
parceiros desconhecidos. "De Todos os Sambas" traz uma parceria
com Mario Lago, "Pro Mundo
Morar". "Ele tinha feito esse samba há uns 15 anos, mas era muito
curto. Na época ele não achava isso. Aí eu coloquei a segunda parte
e o avisei, e ele não reclamou."
O Rio é bastante presente nas letras. Há uma homenagem à favela
da Rocinha em "Rocinha" e um
registro de Ipanema na atrasada
"Apitaço" -sobre o uso de apitos para os usuários de maconha
em Ipanema alertarem seus colegas da aproximação da polícia.
"A música é uma homenagem a
'Pelo Telefone', do Donga, tem
mais ou menos a mesma métrica,
e a letra fala hoje de uma discussão
mundial, o uso da maconha é algo
que ultrapassou o Rio de Janeiro."
"Quando Parei no Sinal", de Arlindo Cruz, evoca os camelôs dos
semáforos do Rio e tem algo de
Zeca Pagodinho descrevendo a
confusão do Largo da Carioca.
Longe de ser um disco antológico, "De Todos os Sambas" investe
no ecletismo. Nogueira inseriu
também um samba-de-roda para
homenagear Dorival Caymmi.
Ao contrário do que se poderia
esperar, Nogueira não fala com irritação do milionário "sambanejo" paulista. "Os grupos estão caprichando na qualidade de gravação, não cometem mais erros de
produção. Acho que alguns músicos são bons, o vocalista do SPC
canta bem, e tem esse grupo Molejo, que faz um samba próximo ao
da geração anterior à minha, parecido com embolada."
Nogueira afirma que estilo é algo
difícil de criticar. "Não adianta
mostrar Chico Buarque para um
cara do sertão. O Brasil é um continente, e tem espaço para todo o
mundo, mas é preciso saber onde
o seu público está."
Disco: De Todos os Sambas
Intérprete: João Nogueira
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 18 (em média)
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