São Paulo, sexta, 19 de junho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

WHAT'S COOKING
Ilha de St. Barth oferece cozinha do mundo

RITA LOBO
Colunista da Folha

Entrar numa lojinha e comprar ao lado de Giorgio Armani ou jantar na mesa oposta a de Steve Martin são coisas comuns em Saint Barthelemy. Mas certamente não é isso, ou só isso, o que torna essa ilhota caribenha atraente.
Colonizada por franceses, além das praias, do azul do mar e dos "364 dias de sol por ano", em St. Barth a cultura gastronômica é de fazer inveja a grandes cidades.
Um dos motivos que torna a culinária local peculiar é que, exceto uma ou outra fruta, nada é cultivado ou produzido na própria ilha; todos os produtos alimentícios são importados. Assim, os melhores ingredientes do mundo se transformam em deliciosos pratos nas mãos de talentosos chefs. Com isso fica fácil imaginar por que os preços por lá também são de fazer inveja a grandes cidades.
Algumas vezes isso pode chegar ao absurdo de uma salada de lentilhas custar US$ 60. No restaurante Taiwana, local do crime, você olha para um lado e não consegue tirar os olhos do mar azul.
Do outro lado, a cozinha aberta para o salão serve de palco para os cozinheiros. Tudo muito simples, com um ar de restaurante de clube. Nenhuma indicação da conta que está por vir -principalmente para as mulheres, que recebem o menu sem preços, "comme il faut".
Os clientes recém-saídos da praia ou da piscina almoçam vestindo apenas uma camiseta por cima do maiô molhado ou uma toalha enrolada na cintura, enfatizando o tal "ar" -ou talvez não vistam calças pois sabem que eventualmente terão que deixá-las por lá.
O dono do local, um francês, não sugere nenhum prato; ordena. E tira os pedidos como se estivesse fazendo um favor. Os garçons vestem uma camiseta escrito "No Credit Cards". Todo mundo reclama, mas a maioria volta. Mistérios. E quanto à salada, já comi melhores.
Há, porém, François Plantation. Refinado sem ser besta, o restaurante operado pelo chef Christophe Picard é influenciado pela cozinha creole -uma combinação dos sabores da culinária francesa, espanhola e africana.
A carta de vinhos é daquelas que só com muito esforço você erra na escolha. Os talheres de prata contrastam com pratos de bordas coloridas que, polvilhados com especiarias cajun, exalam seus aromas no trajeto da cozinha à mesa.
Numa única semana, jantei lá três vezes, sendo que em duas pedi o mesmo prato: turnedô de avestruz com molho de pimenta da Jamaica, servido com purê de batata-doce. Antes, porém, foi servido um sorbet de maçã verde que repara o paladar. E, depois da sobremesa, um rum obrigatório após um grande jantar em St. Barth.
Rum, aliás, é a base da bebida local, o punch plantaire; um desses coquetéis com suco de frutas, cereja e sombrinha para enfeiar, isto é, enfeitar. Mas é bom, muito bom. E o bom mesmo é depois do terceiro, quando você não lembra mais o nome da bebida nem o seu.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.